Cãozinho sem nome

Ia apressada. Precisava não esquecer nenhum item da lista mental que repassava pra ver se não havia esquecido nada. Voltar naquele sol escaldante. Ufa!!! Não era pra qualquer um. Muito menos eu que não gosto de calor, nem das terríveis manchas que o sol implacável deixa nos incautos.

Aquele serzinho apareceu do nada. Olhei e fiz de tudo para não voltar a fixar meu olhar porque sabia qual resultado de um ‘segundo olhar’. Ah, quantas vezes rompi o improvável por causa de um segundo olhar! Como podemos ficar insensíveis diante do abandono, do sofrimento, da injustiça, do descaso, da estupidez? Acho que vou enfartar cedo. Meu coração não suporta mais contemplar o inadmissível e não sofrer as consequências.

Na volta, novamente dou de cara com o cãozito. Bem que ele poderia ter ido por outra rua ou eu ter encurtado caminho e evitado tal situação. Resultado: Agachei-me e pus-me a conversar com o moribundo. Daí, poucos minutos foram suficientes para leva-lo pra casa, gastar o pouco trocado que tinha, por abaixo uma multidão de parasitas e esperar para ver se o animal resistiria ou não.

É, o bichinho, após umas seis horas de observação, levantou a cabeça, balançou o rabinho fino e já dava uns passos desengonçados. O maridão quase tem um troço, o filho ficou maravilhado e os outros animais da casa enciumados. Lá vou eu tentar solucionar um problema que havia arranjado.

Casa temporária, carinho de sobra, todos satisfeitos e meu coração satisfeito, achando que tinha acertado. Mas, gente má existe na rua e existe entre quatro paredes. Tem nome de gente, mas deveria ser chama do de monstro.

Prepararam um alimento envenenado pelo puro prazer de exterminar animais e cães do bairro, até aqueles que tinham dono e que estavam em quintais, sem incomodar uma viva alma. E jogaram comida para o alto...Uma sacolinha caiu no quintal de minha amiga. E todos seus animais morreram envenenados, inclusive o cãozinho que pedi para tomar conta.

Senti-me culpada. Deveria ter deixado o animal na rua. Talvez lá ele tivesse tido mais chance de viver mais um pouco. Até hoje, quando olho para a foto sinto uma dor no peito. Mas, não posso lutar contra gente má. Não tenho instrumentos nem armas para lutar contra elas. Um dia elas terão que responder por seus atos. Um dia, cessarão de fazer o mal.

03/12/17

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 03/12/2017
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