"Penso... logo existo!!! " quem disse isso???
Uma frase que todos conhecem: “Penso, logo existo”
“Penso, logo existo” está em um dos textos mais conhecidos do francês René Descartes: O Discurso do Método traz a autobiografia intelectual do filósofo e a metodologia por ele criada para a busca de um conhecimento verdadeiro
Publicado em 1637, O Discurso do Método, de René Descartes, é um dos textos mais conhecidos daquele que hoje é considerado o fundador da Filosofia moderna e do racionalismo, doutrina que atribui à razão humana a capacidade exclusiva de conhecer e estabelecer a verdade.
O racionalismo privilegia o pensamento lógico como forma de explicação da realidade – algo novo para o homem recém-saído da Idade Média e ainda submetido à autoridade intelectual eclesiástica.
“A obra foi originalmente escrita em francês, um idioma popular na época, enquanto os textos filosóficos eram comumente publicados em latim.
Tal atitude demonstra a preocupação de Descartes em popularizar os conceitos ali manifestos”, explica Alexandre Sech Júnior, professor de Filosofia do Curso e Colégio Acesso.
Descartes inicia o texto com o relato de sua formação intelectual.
O autor conta que, apesar de ter recebido instrução científica e filosófica em uma das melhores escolas da França – o Colégio Real de La Fleche, comandado por padres jesuítas –, passou a duvidar da verdade formal ensinada na academia.
Embora diga admirar a educação recebida, constata que, com exceção da Matemática, o ensino não oferecia nenhum saber isento de dúvidas.
Por esse motivo, escreve, decidiu deixar os estudos regulares e viajar para observar o mundo e ganhar experiência em contato direto com a realidade.
Em sua jornada pelo “grande livro do mundo” (termo por ele empregado em O Discurso do Método), entretanto, Descartes diz não ter encontrado respostas satisfatórias às suas dúvidas.
Ao observar os costumes dos outros homens, percebeu que neles havia tanta diversidade quanto entre as opiniões dos filósofos.
“Nas viagens que fez, Descartes constatou que as verdades variavam conforme as culturas”, afirma Alexandre.
O filósofo desenvolveu então um método para a boa condução da razão, um meio seguro e eficiente de aquisição de conhecimentos verdadeiros.
“O método descrito por Descartes é inspirado no rigor matemático e no encadeamento racional de regras.
Ele aponta um caminho, que pretende ser universal, para se conhecer o maior número de coisas com o menor número de regras”, diz o professor.
O filósofo propõe quatro regras para se chegar ao conhecimento verdadeiro.
A primeira, explica Alexandre, é a regra da evidência, segundo a qual só se pode aceitar o que for claro e não suscitar dúvidas.
A segunda regra é a da análise. De acordo com esse princípio, é preciso dividir as dificuldades, os objetos de estudo, em tantas parcelas quantas forem possíveis e necessárias.
A terceira regra, a da síntese, diz que é necessário elaborar conclusões abrangentes e ordenadas, a partir dos objetos mais simples aos mais complexos.
A quarta regra proposta por Descartes, a da enumeração, determina a revisão minuciosa das conclusões obtidas, garantindo que nada seja omitido, assim como uma coerência geral.
“O método de Descartes, no que diz respeito aos atos de dividir, ordenar e classificar, será a base metodológica da busca do conhecimento científico desenvolvido posteriormente”, diz Alexandre.
Em O Discurso do Método, Descartes lança ainda uma de suas sentenças mais conhecidas (“penso, logo, existo”), como explica o professor do Acesso.
“Uma vez estabelecidas as regras do método, Descartes passa a rejeitar tudo o que se apresente a ele como incerto.
Esse é o chamado momento da dúvida radical, no qual nada que venha através dos sentidos, ou dos nossos pensamentos, deve ser considerado indubitável, pois aqueles podem nos enganar e estes manifestarem-se tanto no sono quanto na vigília.
É do próprio ato de duvidar que surge a primeira verdade para Descartes: se eu duvido, penso; e se penso, logo existo”, afirma Alexandre, lembrando que a segunda certeza para o filósofo é a existência de Deus.