REALIDADE

Lá em baixo a cidade é um deslumbramento.

É um mundo de encanto para o desencanto

dos meus olhos.

Hoje as luzes se multiplicaram.

Como um vagalume monstro, um fogo sobe

no céu. Depois outro, depois outro.

São balões do mez de junho. O povo é

christão.

Os balões são preces de crianças.

Balões – guizos de luz – que harmonia

Subtil cantaes dentro da noite feliz?

A minha alegria é enorme.

***

A moça bonita do quarto da frente appa-

receu para dizer:

- Venham ver o rapaz doente como parece

uma criança!

Eu ia bater palmas para um balão de duas

cores que vinha na direção da minha janela.

As minha mãos pararam no ar sem comple-

tar o gesto da minha alegria.

E os balões, subitamente, começaram a

cahir, como lagrimas de fogo choradas por um

deus infeliz, dentro da noite apavorante.

VICENTE ARAUJO - Rio de Janeiro/RJ - 10/06/1935

Este é um outro poema do meu tio Vicente Fontenelle de Araujo. Ele morreu de tuberculose no final dos anos trinta do século XX. A guarda da sua obra era de seus pais. Depois de falecidos, passou para sua irmã que morreu em 2008.

Foi um poeta guardado em uma caixa ao longo de setenta anos. Por isso decidi preservar a ortografia da época que está em seus textos.

Paulo Fontenelle de Araujo em 29/09/2017

Paulo Fontenelle de Araujo e VICENTE ARAUJO
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 29/09/2017
Reeditado em 30/03/2018
Código do texto: T6128709
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