O CÉU OU A TERRA
O Rio, em seu deságue final fará parte de algo bem maior: O OCEANO. Ele sabe disso e conhece muito bem o seu destino, mas sabe também que tudo aquilo que vive em seu caudal perderá a razão de ser ou de existir.
Ainda que muitas vezes se sinta pequeno, na sua ânsia de persistir, de ganhar um pouco mais de tempo, de continuar a ser ele mesmo, sempre tentará em manhas prolongar o seu curso e assim fazer tardio seu rumo ao desconhecido.
Como que freando muitas vezes ele segue caudaloso, urrando no esforço ao contornar as pedras que o ajudam a protelar seu curso. Em outras, flui manso em seu álveo, serpenteando e irrigando docemente, vales, florestas e várzeas. Assim vai ele, se dividindo em afluentes, riachos, córregos e ribeirões. Em noites enluaradas, cansado das lutas diárias contra as próprias marés, fica no remanso dos leitos de seus lindos lagos espelhados.
Em mais um dia de luta contra a sua sina, lá vai ele se arrastando e se agarrando nas curvas e obstáculos de suas margens escorregadias, assim ele vai se moldando, se transformando em belíssimas cachoeiras e cascatas. Em troca de todo o seu esforço ele apenas sonha em servir por mais tempo aqueles que o prestigiam; que se banham e saciam a sede em suas águas límpidas e, principalmente, os que vivem dentro de sua alma doce e cristalina.
O Rio é o nosso maior bálsamo. Devemos tratá-lo bem durante a sua efêmera existência. É dele que sorvemos a nossa vida. No oceano ele se diluirá e nada será jamais. Mas não, sua tenacidade não permitirá que ele deixe de existir, se assim não fosse ele não ressuscitaria em vapores se livrando do sódio que o impediria de ser puro, potável; do céu não se condensaria em finas gotas de cristal ou em tormentosas chuvas de verão; não se transformaria em novos e lindos regatos. Enfim, não começaria tudo de novo, num ciclo vicioso.
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Homenagem ao meu grande amigo Raul Sá D'Almeida, pela 65 órbita em torno do sol. Parabéns meu irmão, feliz aniversário!!