Ode às Sabiás do meu vilarejo
De onde elas vêm
E para onde elas vão,
Não se sabe!
Só uma certeza;
Todo ano elas retornam!
Cortando a bruma
Silenciosa da madrugada
Ouve-se então o seu cantarolar.
Ninguém ficará sem alvorada
Ninguém acordará mal-humorado.
Todos nós já as esperávamos!
Até as ramas camarinhas
Das velhas figueiras...
São elas que retornam
Mais uma vez
Nas asas de agosto/setembro!
Entre gorjeios maviosos
Vão tecendo seus ninhos
Criando suas proles
Queira o céu grávido de nuvens
Ou infinitamente azul.
Ah! Quem dera a liberdade de suas plumas
A sonoridade do seu coração!
Mas, me atrevo a falar de um privilégio:
É eu poder ouvi-las e assisti-las
Daqui da minha janela!
São aquelas do peito alaranjado
E olhar rápido, no prefácio da primavera!
E carregando o ar de sonoridade
Nos enche de humanidade
Desde a púrpura da matina
Até o ouro da tardinha!
Preciso ouvi-las mais intensamente
Pois não demora, batem asas
Levando sinfonias e proles
Porque suas visitas
São o tempo de um arco-íris,
O tempo de um haicai!
Ainda um tom melodioso se ouve
Voando para algum desterro?
É assim, sempre assim,
Como chegam, desaparecem.
Retornarão as mesmas?
Estaremos nós aqui, para mais uma vez
Vê-las e ouvi-las?
A única certeza é que sempre, ao partirem
Deixam pobre meu vilarejo
E o meu coração pesado e triste
Como o cantar de um realejo!
De JAL.®