Certo Roberto
Certo Roberto
Cercado e pranteado pelo carinho dos familiares e da extensa rede de
amigos, afastou-se de nós - e só para ficar mais perto - o Roberto.
Mais conhecido como Roberto Nazar, Oliveira era o seu tronco familiar.
Atravessou uma prolongada enfermidade, indo, aos 86, entregar-se ao
Criador. Mas pescador emérito que foi, a paciência, mais que uma
virtude, dos atos e fatos da embarcação da vida, passa a ser a
essência.
As lembranças que tenho de Roberto são poucas, como escassa foi minha vivência em Pitangui, nossa Velha Serrana, onde, como residente, do povoado do Brumado embarcado, aqui cheguei, alfabe(s)tizando, em junho de 1958 e permaneci até fevereiro de 1966. Tempo de criança e tenra juventude, entre o lar e a escola, se pouco tempo dispus para
socializar-me, não deixaram de ser marcantes as observações, os
contatos, as interações com a vida na cidade.
Daí, o meu convívio mais próximo foi com Dona Sálua, digníssima esposa
do falecido, que, por aquela época apenas iniciava sua longa e
vitoriosa trajetória de Professora de História. E era desafiadora sua
missão: substituir o insubstituível José Morato que, ex-Prefeito, e
sempre professoral, afastava-se da terra natal para brilhar em Belo
Horizonte, na direção da Imprensa Oficial do Estado.
Com a temática central do Roberto, que era o tocar bar(co) na
centralíssima rua do Pilar, eu apenas tangenciava. Mas não deixava de
ansiar por experimentar e ver desabrocharem minhas habilidades com o
taco de sinuca, com um Continental aceso, entre o indicador e o médio,
naquele ambiente sedutor a media-luz. Via entre os habitués do ponto,
ainda apenas iniciantes, promessa mais segura de diplomação nas artes
do taco, no afável contemporâneo Romulus Augustus, a quem
afetuosamente passamos a reconhecer como o bon-vivant par excellence.
Mudado de ponto, e sempre atencioso com a clientela, Roberto manteve as atividades profissionais em ponto ainda mais central,
estabelecendo-se no verdadeiro miolo de onde se fazia o footing na
cidade, cujo auge, para minha geração há de ter sido nos albores da
década de 1970. Afinal, éramos tri, o país crescia a passos céleres, o
desemprego era residual e, embora emudecida, a gente ia levando,
contente com que ao menos, feito Julinho da Adelaide, a filha
gostasse.
E justamente no gostar dos filhos, seis ao todo, residia a mais
presente devoção do Roberto: amigo do peito de Murilo Malachias, dentista de prestígio e sempre de dinheiro no bolso, Roberto profetizava que veria seus filhos na Odontologia. E como acertou na profecia...
Hoje nos consolamos com a lembrança que se muito ainda dói, como sói, de Roberto faz pai herói.