UM CASAL COMO NENHUM OUTRO
Aquele homem era sempre visto com um livro nas mãos. Advogado, estudioso, pesquisador. Sabia um pouco de tudo, conversava como ninguém. Falava sobre qualquer assunto e explicava com muito cuidado tudo o que conhecia sobre o que era perguntado. Gostava de literatura, política, história, mas também amava a boa música. Ouvia ópera, assistia apresentações de balé e levava seus filhos, depois seus netos, para assistirem também. Frequentador do Teatro Municipal da sua cidade. Na família era conhecido como "biblioteca".
Aquela mulher, de sorriso solto e sonoras gargalhadas, era casada com o senhor Biblioteca. Enfermeira, sempre pensando no próximo, doava o seu tempo para que outros pudessem estar bem. Vivia cantando pela casa e em qualquer encontro familiar. Ensinava aos filhos e netos as músicas que aprendeu um dia num coral que participou - Coral das Filhas de Maria - da Igreja Sagrados Corações. Costumava cantar, depois ensinava a primeira voz e a segunda voz, e todos faziam um mini coral. Gravava tudo em antigas fitas K7. De todas as músicas, a preferida era "Andorinha Preta". Essa sempre era cantada. Talvez a andorinha representasse um pouco a leveza e certa fragilidade na inocência daquela mulher.
Mas a vida passou e eles se foram. Um dos netos, com extrema sensibilidade, escreveu um conto intitulado "A Andorinha e a Biblioteca", que de tão lindo e verdadeiro foi lido no velório daquele homem. Foi a última homenagem que todos poderiam fazer a uma união tão diferente, de pessoas que se amavam tanto e que formavam um casal como nenhum outro.