DEMOCRACIA VIGENTE
«No Dia de Portugal 2017»
Democracia? Sim, pros Maiorais,
Pros restantes apenas o trivial…
Pelo menos que o digam os pardais
Neste glorioso Dia de Portugal!
Direitos e garantias para todos,
Por aqui e por ali, há certos sinais;
Pra maioria, sorrisos e bons modos
Democracia? Sim, pros Maiorais.
Para quem já está bem instalado
E no dia-a-dia nada lhes corre mal
Têm privilégios e um bom ordenado,
Pro restantes apenas o trivial…
Cidadania virtual? Já não é segredo:
Falha aqui, falha ali, coisas triviais.
Há insegurança? Sim, mas não há medo
Pelo menos que o digam os pardais.
O custo de vida? Vai dando pros alfinetes
Duma forma ou de outra – coisa e tal –
Todos vivem “pobretes mas alegretes”
Neste glorioso Dia de Portugal.
Nesta nossa barcaça, de lés-a-lés
Por oceanos já mais que navegados,
Cá vamos arrostando co´ as marés
Mas oh, de quando-em-vez, sobressaltados.
Neste país – qu´ é um país de pardais –
Vingam, por todo o lado, os espantalhos
Que, para defender seus arrozais,
Forçam por lhes despir os agasalhos.
(O império chinês do grande Timoneiro
Quis dizimar de vez todo o passaredo
E, afinal, veio a fome pra lugar cimeiro
E os pardais lá voaram para o degredo.)
Mascarada que está a Democracia
Nivelada por baixo, como convém,
Vai-se dando umas migalhas à maioria
E sobram privilégios, para Alguém.
Ó Dia de Portugal, Dia da Esperança
No coração ingénuo de toda a gente
De que lado está o prato da balança?
País de Sonho ou Democracia vigente?
Malquistos, cidadãos da vida airada,
Heróis pedantes da vil corrupção;
Benquistos, cidadãos de vida honrada,
Filhos da Lei e honra da Nação.
Dia de Portugal e Dia de Camões,
É sempre quando um português quiser,
Não se embandeire em arco as emoções
Mas cante-se, sim, o Hino quem o souber!
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA