Bar do Verinho, ou Bardo Verinho?
Entenda como quiser, mas risque o primeiro. Já não existe mais o Bar do Verinho, ali da esquina que confronta duas ladeiras: a do Inácio Campos, bem íngreme, que leva ao centro da Velha Serrana - que é como conhecemos e louvamos a tri-centenária Pitangui - e a outra, já mais suave, que leva ao Lavrado.
Era até bem pequeno o dito bar que se aninhava sob a sombra, já saudosa de anos, do Hotel Rodoviário, por muitos anos mantido pela família do Tonico Caldas. Um sobrado que, prestes a ser demolido, para dar lugar a alguma construção imponente, inda dá tanta lembrança na gente.
Ex-bancário, Verinho dedicou-se ao barismo, há pouco mais de vinte anos. A particularidade mais expressiva desse acolhedor estabelecimento, de clientela bem heterogênea, e portanto, mais democrática - e democrítica - impossível é a de que Verinho passava pouco tempo atrás do balcão. De ordinário, misturava-se com a freguesia, e até mais que a bebida, a prosa corria. A prosa e a poesia.
Daí, mais que Bar do, Bardo é Verinho. Que além das muitas histórias para contar, de seu baú de memórias quanta coisa não há que cantar.
Eu só estava meio grogue quando Verinho veio falar-me sobre a sua admiração pela música operística. É, veio justamente com Va Pensiero, ária introdutória de um dos mais significativos trabalhos de Giuseppe Verdi, o Pelé do canto lírico, ópera essa denominada Nabucco. A temática é sobre o longo cativeiro dos hebreus os sonhos seus de libertação.
E justamente, de novo, Verinho, que estava bem sóbrio, me desafiava a reescrever essa canção...de que até hoje, e até sempre lhe serei devedor.
Mas pela cerveja eu paguei, e de lá saí com aquela sensação que Bardo mesmo é o barista Verinho, agora livre, leve e solto.
Mas não era só esse aparente elitismo - e etilismo - o interesse do Verinho. Ao contrário, mais abrangente, impossível, servindo a todo a diapasão da música, do cinema e, por fim, mas jamais derradeiro, o futebol.
E infalivelmente o teste se aplicava ao eventual interessado, sobre formações clubísticas de nosso passado, por meio de um invejável acervo fotográfico. E até que não me dei mal no exame, conseguindo, por exemplo idenficar um Osvaldo Duarde, um Jésus Lemos e até o Plínio Malachias... E que bonito ver o esquadrão do PEC, bicampeão da cidade no início dos anos sessenta, com o Messias em plena forma...
O próprio Verinho tornava-se personagem naquele mundéu de destacados atletas, talvez menos pela potência de seus arremates ou habilidades para o drible mas sim, mais do que o Luís do Saco, atrair as torcidas femininas nos albores daquela década em que nosso querido Brasil cairia na ditadura, sob a lei do fuzil.