TEREZA BATISTA *
Em memória de Jorge Amado
Quando, pela vez primeira,
vi naquele balcão seboso,
imundo e cheio de poeira,
Tereza. Confesso fiquei curioso.
Como explicar situação igual aquela?
Um lindo corpo de bronze, um chamariz.
Uma quase criança, mulher tão bela,
ali, bem na ponta do meu nariz.
Lancei sobre ela meu faminto olhar
mesmo ciente do meu grande risco.
E para o capitão Justiniano não desconfiar,
tratei de ser esperto e bem arisco.
Nunca havia visto antes
em um só corpo, tanta beleza.
Nunca vira olhos tão fascinantes,
tão bem feitos pela natureza.
E todo cuidado, porem, era pouco,
Pois, para ganhar de Tereza, o coração,
só mesmo fosse algum louco
capaz de enfrentar seu dono, o capitão.
Há! Como Tereza, de olhar ardente,
fazia me desejar seu corpo lindo!
Que desejos tão desvairados e quentes
de dentro de mim vinham vindo?
Teria eu ainda que esperar
mais um descuido do capitão,
para o olhar de Tereza repousar
novamente em meu coração.
Sem que ele percebesse, eu, ansioso
beijei com carinho a rosa fadada
e ali naquele balcão sujo e seboso
a depositei as escondidas, para amada.
Tereza escondeu no peito o vermelho da flor
que eu havia lhe dado naquela ocasião,
enquanto tive que ocultar por ela meu amor
enquanto estivesse na presença do capitão.
Nova Serrana (MG), 13 de maio de 2011.