FOTOGRAFIAS PÓSTUMAS DE UM PAI QUASE ESQUECIDO

Segundos depois de desembarcar do veículo, a comoção tomou conta de todo o meu ser, o que me manteve totalmente imóvel e de olhos fixados naquela lápide fria. Enquanto isso, pessoas curiosas quanto ao​ aparecimento desse "estranho" , lançavam olhares curiosos e se aproximavam. Me afastei um pouco e exortei em voz quase silenciosa: "Está tudo bem!" Eu mal respirava, e era urgente a necessidade de me refazer do mal estar que me desligava desse mundo. Por um momento revivi cada acontecimento dá minha história que o envolvia, afinal não eram muitos. E fotografias se formavam na minha mente, como num livro ilustrado e com um enredo, o que era gratificante para mim. Não poderia sentir uma sensação melhor. As lágrimas por um momento inundaram os meus olhos. Quem estaria ali inerte naquele momento? Um amigo... Um homem... Um pai... Não poderia dizer ao certo, porque eu nunca soubera como manter essa ordem, mas devido ao número de pessoas que o rodeava, desconfiei que ali estava, na visão de cada um, um bom amigo, seria um saudoso amigo.

Finalmente depois de recuar alguns passos, voltei aos meus pensamentos, que me encaminhavam ao meu tempo de infância. Novamente as fotografias. E com elas revivi cuidadosamente cada uma das suas atividades, seu desvelo e seu desapego pelas coisas materiais, que mostravam seu enorme coração. Nesse momento, já estava cercado por pessoas desconhecidas, que dispensavam seus sentimentos de conforto. Eu sabia que não poderia demorar muito naquele local. E sem dúvidas, as pessoas desconhecidas por mim, gostariam que eu tivesse algo a dizer. Entretanto não pude emitir qualquer palavra. Não! Porque ficaria muito aquém do que esperavam. Então deixei para um amigo seu, o único que eu conhecia, essa tarefa. Além do mais, ele soube como envolver a todos num silêncio quase absoluto ao falar sobre suas atitudes altruístas.

Foram lembranças quase perdidas no tempo, porque até então, nos meus arquivos, ele apenas chegava e saía. Entretanto a cada viagem, traziam no alforge um pouco de esperança.

E assim, agradecendo a todos, fechamos a tampa do esquife, para que se iniciasse o fétero. Ficaram as poucas lições do "velho pai", um homem que tivera a intenção de escrever sua própria história.

Lágrimas em seus olhos? Nunca vi. Percebia apenas a disposição de se alegrar e de viver com suas incontáveis maneiras de sorrir. E brincava até com a morte, dizendo que a encontraria no dia 29 de fevereiro. Talvez enganasse a maldita por ser dia de ano bissexto. Mas saiu de cena no mês de abril, numa manhã quente parou de respirar. Não de viver, apenas de respirar, porque viverá para sempre no meu coração.

Jorge antonio Amaral
Enviado por Jorge antonio Amaral em 07/05/2017
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