Homenagem ao Pedro CASALDÁLIGA, poeta e bispo espanhol no Brasil os anos 1970 - 2005; lutou pela dignidade dos pobres sem terra do Araguaia, Tocantís, Brasil.
A VOZ DA RESISTÊNCIA NA POESIA
DE DOM PEDRO CASALDÁLIGA
Adriana Lins Precioso (UNEMAT)
adrianaprecioso@uol.com.br
RESUMO: O desdobramento do termo pós-moderno proposto por Alfredo Bosi traz em seu bojo um
movimento de autodefesa que coincide com o processo de renovação da Igreja Católica na América
Latina. Em tempos de ditadura, chega ao Brasil Dom Pedro Casaldáliga, cuja militância frente à Teologia da Libertação inspira não só a ação religiosa mas também reflete e renova a poesia religiosa. Os conflitos sociais vivenciados em terras da Amazônia Mato-grossense ganham corpo na voz da resistência e da denúncia desse religioso poeta da libertação.
PALAVRAS-CHAVE: poesia religiosa; resistência; Pedro Casaldáliga.
Terra roxa e outras terras – Revista de Estudos Literários
Volume 21 (set. 2011) – 1-136 – ISSN 1678-2054
http://www.uel.br/pos/letras/terraroxa
http://www.uel.br/pos/letras/terraroxa/g_pdf/vol21/TRvol21e.pdf
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Dom Pedro Casaldáliga CMF, nascido Pere Maria Casaldàliga i Pla, (Balsareny, 16 de fevereiro de 1928) é um bispo católico catalão.
DOM PEDRO CASALDÁLIGA
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/mato_grosso/dom_pedro_casaldaliga.html
Ingressou na Congregação Claretiana em 1943, sendo sagrado sacerdote em Montjuïc, Barcelona, no dia 31 de maio de 1952. Em 1968, mudou-se para a Amazônia Brasileira.
Foi nomeado administrador apostólico da prelazia de São Félix do Araguaia no dia 27 de abril de 1970. O Papa Paulo VI o nomeou bispo prelado de São Félix do Araguaia (Mato Grosso), no dia 27 de agosto de 1971. Sua ordenação episcopal deu-se a 23 de outubro de 1971, pelas mãos de Dom Fernando Gomes dos Santos, Arcebispo de Goiânia e de Dom Tomás Balduino, OP e Dom Juvenal Roriz, CSSR. Foi bispo da sé titular de Altava até 1975.
Adepto da teologia da libertação, adotou como lema para sua atividade pastoral: Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar. É poeta, autor de várias obras.
Dom Pedro já foi alvo de inúmeras ameaças de morte. A mais grave, em 12 de outubro de 1976, ocorreu no povoado de Ribeirão Bonito (Mato Grosso). Ao ser informado que duas mulheres estavam sendo torturadas na delegacia local, dirigiu-se até lá acompanhado do padre jesuíta João Bosco Penido Burnier. Após forte discussão com os policiais, o padre Burnier ameaçou denunciá-los às autoridades, sendo então agredido e, em seguida, alvejado com um tiro na nuca. Após a missa de sétimo dia, a população seguiu em procissão até a porta da delegacia, libertando os presos e destruindo o prédio. No local foi erguida uma igreja.
Por cinco vezes, durante a ditadura militar, foi alvo de processos de expulsão do Brasil, tendo saído em sua defesa o arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns.
No ano 2000, foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Campinas.
Apresentou sua renúncia à Prelazia, em conformidade ao Can. 401 §1 do Código de Direito Canônico, em 2005. No dia 2 de fevereiro de 2005 o Papa João Paulo II aceitou sua renúncia ao governo pastoral de São Félix.
Fonte: Wikipedia
TEXTOS EM PORTUGUÊS – TEXTOS EM ESPANHOL
EU, ARAGUAIA E TU
Eu, Araguaia e tu, um tempo só.
Abraamicamente numerosas,
nos garantem o sonho proibido
as estrelas, lá fora canceladas.
O ipê batiza ainda com ouros gratuitos
o Silêncio, o que nós, ó Araguaia,
conseguimos salvar dos invasores.
Sempre ainda encontramos — eu e tu —
a pergunta inquietante de uma garça, na beira,
provocando respostas, acordando o Mistério.
Tu estavas, no princípio,
de acordo com a Lua, sacerdotisa virgem,
alfombrando as cadências do Aruanã sagrado.
Os potes Karajá recolhiam teus olhos
e os peixes costuravam de prata teu banzeiro.
Ainda o Padim Ciço não mostrara
tua bandeira Verde aos retirantes.
Não havia Funai, Sudam, nem Incra.
Eram
Deus
e as Aldeias.
Poema extraído da obra CHUVA DE POESIAS, CORES E NOTAS NO BRASIL CENTRAL, 2 ed., de Sônia Ferreira. Goiânia:Editora da UCG; Editora Kelps, 2007, com a autorização da autora.
V.- OFERTÓRIO
(fragmento de MISSA DOS QUILOMBOS
Texto em colaboração com Pedro Tierra )
(Recitado)
Na cuia das mãos
trazemos o vinho e o pão,
a luta e a fé dos irmãos,
que o Corpo e o Sangue do Cristo serão.
(Recitado)
O ouro do Milho
e não o dos Templos,
o sangue da Cana
e não dos Engenhos,
o pranto do Vinho
no sangue dos Negros,
o Pão da Partilha
dos Pobres Libertos.
(Recitado)
Trazemos no corpo
o mel do suor,
trazemos nos olhos
a dança da vida,
trazemos na luta,
a Morte vencida.
No peito marcado
trazemos o Amor.
Na Páscoa do Filho,
a Páscoa dos filhos
recebe, Senhor.
(Coro-Cantado)
Trazemos nos olhos,
as águas dos rios,
o brilho dos peixes,
a sombra da mata,
o orvalho da noite,
o espanto da caça,
a dança dos ventos,
a lua de prata,
trazemos nos olhos
o mundo, Senhor!
(Recitado)
–Na palma das mâos trazemos o milho,
a cana cortada, o branco algodão,
o fumo-resgate, a pinga-refúgio,
da carne da terra moldamos os potes
que guardam a água, a flor de alecrim,
no cheiro de incenso, erguemos o fruto
do nosso trabalho, Senhor! Olorum!
(Coro-Cantado)
O som do atabaque
marcando a cadência
dos negros batuques
nas noites imensas
da Africa negra,
da negra Bahia,
das Minas Gerais,
os surdos lamentos,
calados tormentos,
acolhe Olorum!
(Recitado)
—Com a força dos bracos lavramos a terra
cortamos a cana, amarga doçura
na mesa dos brancos.
— Com a força dos braços cavamos a terra,
colhemos o ouro que hoje recobre
a igreja dos brancos.
—Com a força dos braços plantamos na terra,
o negro café, perene alimento
do lucro dos brancos.
—Com a força dos braços, o grito entre os dentes,
a alma em pedaços, erguemos impérios,
fizemos a América dos filhos dos brancos!
(Coro–Cantado)
A brasa dos ferros lavrou-nos na pele,
lavrou-nos na alma, caminhos de cruz.
Recusa Olorum o grito, as correntes
e a voz do feitor, recebe o lamento,
acolhe a revolta dos negros, Senhor!
(Recitado)
—Trazemos no peito
os santos rosários,
rosários de penas,
rosários de fé
na vida liberta,
na paz dos quilombos
de negros e brancos
vermelhos no sangue.
A Nova Aruanda
dos filhos do Povo
acolhe, Olorum!
(Recitado)
Recebe, Senhor
a cabeça cortada
do Negro Zumbi,
guerreiro do Povo,
irmão dos rebeldes
nascidos aqui,
do fundo das veias,
do fundo da raça,
o pranto dos negros,
acolhe Senhor!
(Coro-Cantado)
Os pés tolerados na roda de samba,
o corpo domado nos ternos do congo,
inventam na sombra a nova cadência,
rompendo cadeias, forçando caminhos,
ensaiam libertos a marcha do Povo,
a festa dos negros, acolhe Olorum!
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CASALDÁLIGA, Pedro. Cantares de la entera libertad. Antología para a la Nueva Nicaragua. Prólogo de José Coronel Urtecho. Manágua: IBCA – CAV – CEPA, 1984. 81 p. 18,5x20,5 cm. Coedición de Instituto Histórico Centro Americano, Centro Ecumenico Antonio Valdivieso y Centro de Educación y Promocíon Agraria. Col. Bibl. Antonio Miranda.
PROCLAMA SUBVERSIVA
Voy a cambiaros el revólver chulo
por un bolígrafo de cuentas.
Para que no os engañen nunca
ni los fazendeiros, ni los comerciantes,
ni el ministerio de hacienda.
¡Disparad hojas de libros
entre las hojas de la floresta!
¡Bebed, en las noches claras,
la "pinga" de otra fiesta!
¡Emborrachaos de sabiduría
y de belleza,
sertanejos mozos,
hijos biennacidos
de los legítimos emperadores de América!
Muchachas, garzas torvas,
madres -niñas apenas-,
que guardáis en las arcas de vuestros ojos indios
todas las lunas de las abuelas;
¡aprended a lavar niños
y a conducir con ritmo vuestras piernas!
Hombres heroicos,
¡exigid la tierra!
Mujeres mártires,
¡exigid la diadema!
Viejos desollados por tantos caminos,
¡exigid la poltrona
y la libreta!
Dios se hace Pan de familia „
sobre esta mesa.
Y en Brasilia y en Washington
ni lo sospechan.
¡ Pero el sol y la lluvia
sellan
la única ley de Derechos Humanos
de validez cierta!
CANCIÓN DE LA HOZ Y EL HAZ
(Cosechando el arroz de los posseiros
de Santa Terezinha,
perseguidos por el Gobierno y por el
Latifundio.)
Con un callo por anillo
monseñor cortaba arroz.
¿Monseñor "martillo
y hoz"?
Me llamarán subversivo.
Y yoles diré: lo soy.
Por mi Pueblo en lucha, vivo.
Con mi Pueblo en marcha, voy.
Tengo fe de guerrillero
y amor de revolución.
Y entre Evangelio y canción
sufro y digo lo que quiero.
Si escandalizo, primero
quemé el propio corazón
al fuego de esta Pasión,
cruz de Su mismo Madero.
Incito a la subversión
contra el poder y el dinero.
Quiero subvertir la ley
que pervierte al Pueblo en grey
y al gobierno en carnicero.
(Mi Pastor se hizo Cordero.
Servidor se hizo mi Rey).
Creo en la internacional
de las frentes levantadas,
de la voz de igual a igual
y las manos enlazadas. . .
Y llamo al orden de mal,
y al progreso de mentira.
Tengo menos paz que ira.
Tengo más amor que paz.
. . .Creo en la hoz y en el haz
de estas espigas caídas:
una Muerte y tantas vidas!
¡Creo en esta hoz que avanza
—bajo este sol sin disfraz
y en la común esperanza—
tan encurvada y tenaz!
A UN OFICIAL DE LA OPERACIÓN "ACISO"
(Acción Civico-Social del Ejército Brasileño)
No sé si fuiste tú, ayer apenas
(por orden superior).
No sé si nuevamente
mañana, hoy quizás,
has de ser tú capuz y odio ciegos
(por orden superior).
No sé si fuiste tú
quien resguardó, en prolongada noche
(por orden superior),
el orden de ellos,
la paz del Cono Sur amordazada,
la masacrada paz del Continente.. .
La banda pasará, cerrando bocas;
cuando la banda pasa, el pueblo calla.
La leche en polvo secará los pechos
y las vacas darán al latifundio
sus ubres exportadas.
En un vaivén de miedos y limosnas,
crecerán las amebas del Brasil
royendo las miradas de los niños.
Juro,
me gustaría
creer en vuestra paz oliva verde.
Lo siento, no consigo.
Apuesto, sí, muy terco de esperanza,
en las guerreras pobres que algún día
—tela de pueblo, hilo de comadres,
Sandinos labradores y operarios—
extenderán sobre la Patria Grande
la verde paz de Nicaragua Libre.
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Traduzido em 28/04/2017 -
Canções de liberdade completa. Anthology para uma Nova Nicarágua. Prefácio de José Coronel Urtecho. Manágua: IBCA - CAV - ECA, 1984. 81 p. 18,5x20,5 cm. Coedition do Instituto Histórico da América Central, Antonio Valdivieso Centro Ecumênico e Centro de Educação e Promoção Agrária. Col. Bibl. Antonio Miranda.
PROCLAMAÇÃO SUBVERSIVA
Vou mudar-lhe o revólver cafetão
é responsável por uma caneta.
Assim que você nunca enganar
nem fazendeiros ou comerciantes,
nem o Ministério das Finanças.
'páginas do livro de incêndio
entre as folhas da floresta!
Beber, em noites claras,
o "pinga" um outro partido!
sabedoria Emborrachaos
e beleza,
garçons sertanejos,
crianças Highborne
os imperadores legítimos da América!
Meninas, garças funestas,
-niñas mães apenas-,
que você mantenha nos cofres de seus olhos indianos
todas as luas de avós;
As crianças aprendem a lavar
ritmo e conduzir suas pernas!
homens heróicos,
Terra Exigid!
mulheres mártires,
diadema Exigid!
esfolado velho por muitas maneiras,
Exigid a cadeira
e reservar!
Deus faz Pan de familia "
nesta tabela.
E em Brasília e Washington
nem suspeito.
Mas o sol e chuva
selo
a única lei de Direitos Humanos
Validade verdade!
CANÇÃO DE FOICE E BEAM
(Colheita de arroz posseiros
Santa Terezinha,
perseguidos pelo governo eo
Latifúndio.)
Um anel de calo
Bishop cortar arroz.
Monsenhor "martelo
e foice "?
I chamado subversiva.
E Yoles vou dizer que eu sou.
Lutando por meu povo, eu vivo.
Meu povo, eu vou.
Eu tenho guerrilha fé
amor e revolução.
E entre o Evangelho ea canção
Eu sofro e eu digo o que eu quero.
Se eu escandalizado primeiro
Queimei meu próprio coração
o fogo dessa paixão,
Sua própria cruz Madero.
subversão incitado
contra o poder e dinheiro.
Eu quero subverter a lei
que perverte as pessoas en grey
e o governo em açougueiro.
(Meu Pastor era o Cordeiro.
Servidor foi meu Rei).
Eu acredito no internacional
as frentes levantadas,
Voz de iguais
e as mãos unidas. . .
E eu chamo a ordem errada,
e mentira progresso.
Eu tenho menos paz do que ira.
Eu tenho mais paz amor.
. . Eu penso que a foice eo feixe
destes pinos cai:
uma morte e muitas vidas!
Eu acredito neste foice avançar
-Sob este sol indisfarçável
e Hope-comum
tão encurvada e tenaz!
Um funcionário da OPERAÇÃO "ACISO"
(Acção Exército Brasileiro Civico-social)
Eu não sei se era você, apenas ontem
(Por ordem superior).
Eu não sei se novamente
amanhã, talvez hoje,
você tem que ser você capuz e ódio cego
(Por ordem superior).
Eu não sei se foi você
quem ela abrigada na noite prolongado
(Para a ordem mais elevada),
a ordem deles,
Cone Sul paz amordaçado,
a paz do continente .. massacrado.
A banda vai, fechando bocas;
quando a banda vai, as pessoas em silêncio.
seios secos leite em pó
e as vacas vão latifúndio
Ele exportou seus úberes.
Em um balanço de medos e esmolas,
amebas vai crescer Brasil
roendo olhos das crianças.
Eu juro,
eu gostaria
Olive acreditar em sua paz.
Sinto muito, eu não entendo.
Bonito, sim, esperança muito teimoso,
em mau guerreiros um dia
aldeia -Tecido, fofocas fio,
agricultores Sandinos e operarios-
Eles se espalharam sobre a Patria Grande
Green Peace in Nicaragua Libre.