LABIRINTITE *

À amiga e escritora Aparecida Nogueira

Não julgue que eu tenha bebido,

pelo fato de eu estar meio tonta.

É que são tantos, os anos vividos,

que eu já nem faço mais a conta.

Já passei por grandes apuros.

Trabalhei muito para criar meus filhos,

e com fé em Deus, eu lhe asseguro,

hoje,todos formados, seguem seus trilhos.

Nunca perdi minha esperança.

Trabalhei em circos, fui fazendeira,

e sozinha cuidei das minhas crianças,

pois meu marido, vivia na jogatina e bebedeira.

Ele bebeu a vida inteira.

Nunca ouviu o meu palpite.

e como sua herança derradeira,

só me restou, a tontura dessa labirintite.

Às vezes, me sinto muito ruim.

Não consigo nem ficar de pé.

Mas bem sei, ainda não é meu fim,

pois em Deus tenho muita fé.

Sei que perdi muito do que eu tinha...

Minhas forças, a saúde e juventude.

Mas, porem, nunca perdi, a honra e a virtude.

Pois essas sempre foram minhas.

Também já trabalhei em teatro.

Apresentei em vários palcos

e para me maquiar como os astros,

eu usava batom, ruge e até talco.

Fui uma mulher muito bonita e cobiçada,

capaz de levar toda a platéia ao delírio,

pois eu era, para os olhos daquela moçada,

o maior fascínio e o melhor colírio.

Foram inúmeras apresentações,

por esse mundo de meu Deus.

E em cada uma, deixei boas lições,

para que seguissem os exemplos meus.

Hoje, sinto-me sem forças e cansada.

Durmo bem, as vistas fracas, mas, bom apetite.

Só o que me deixa bastante atrapalhada,

é a danada dessa labirintite.

Contudo, descobri uma boa solução,

para aliviar esse meu mal estar.

Faço trovas, versos e faço canção.

Pois bem sei, a vida, não pode parar.

E pra você, que pensa que estou tonta.

Ah! Eu não estou nem aí, acredite.

Pois se estou, não é da sua conta,

mas o certo é que estou, só com labirintite.

Nova Serrana (MG), 05 de setembro de 2011

Tadeu Lobo
Enviado por Tadeu Lobo em 11/04/2017
Reeditado em 02/06/2017
Código do texto: T5968005
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