Espelho Negro
Olhos negros, espelhos negros
Olhos grandes como jabuticaba
Olhos que não choravam
Sequer vermelhidão de lacrimejo
Olhos negros e profundos que adoravam livros
Espelhos negros que se perdiam entre palavras
Viviam entre Clarices e Machados
Enchiam a alma com a angustia de Macabéa e o pecado de Bentinho
Eram tão cheios de esperanças o negro dos olhos
Como pérolas raras prendiam a qualquer um que os admiravam
A cada leitura terminada era tão solta a fala
Que com certeza quem a ouvia
Punha no rosto um sorriso de alegria
Com o mesmo sentimento que a enchia
Prazer que o espelho negro que refletia
Mas a vez que olhos negros choraram
Era dia de Reis pelo que contaram
Também pudera...
Que tamanho esse espelho negro achava que era a alma dela!
Enchendo-a de Jane Austen, Salinger e outras feras
O centeio cresce quando se semeia
E se a terra é boa
Germina até o que não espera
Um canteiro de tristeza num campo cheio de sonhos
Refletiam no espelho negro
Apanhe mais livros olhos negros
Jogue pra dentro dela
Renove o campo de centeio
Que um canteiro de tristeza não a fará donzela
Novos choros virão
Mas será a mesma alma sem fim a dela