MEU PAI, MEU MAIOR AMIGO
Era uma sexta-feira, dia 18 de novembro de 2005, quando, de repente, o telefone toca e alguém, do outro lado, a Marina, dizia: Venha aqui urgentemente. Acho que o papai morreu! Subitamente, como sempre foi o meu jeito, um tanto sem ação para os casos de morte ou até mesmo de doença. Incrédulo, estático, sei lá. É meu jeito de ser. Disse-lhe, pegue um carro aí e leve-o ao Hospital Rio Doce e lá nos encontraremos. Era mais rápido do que eu sair do centro e me dirigir ao Interlagos. Eles fariam o transporte mais rápido que eu, e assim foi feito.
Cheguei ao Hospital Rio Doce, o meu querido e inesquecível pai, estava inerte, já sem vida e empalidecendo. O Dr. Cardia, que o atendeu – sempre generoso e prestativo, não medindo esforços para nos ajudar, me disse: tenha calma. Ele já chegou aqui sem vida! Eu me conformei, mesmo sabendo da separação que o caso nos imporia, contudo, não é vontade nossa e sim do Criador. O papai, não obstante a falta que nos faz, temos que admitir, ao seu modo, viveu bem! Teve sua vida prolongada e, na medida do possível, sempre com uma saúde regular e mediana. Não nos dava trabalho!
Mas, não poderia imaginar, que ao longo dos tempos nos colocássemos a refletir: O que é a vida? Como ela tem que ser vivida? O que fazer para construir as amizades sólidas que ele conseguiu? Qual o melhor estilo de vida? A riqueza torna o homem mais feliz? A simplicidade seria o caminho para ser mais feliz? Estamos indo na mesma direção do papai ou nos desviamos ao longo da estrada? Estamos nos comportando como ele, que foi o nosso maior exemplo de honradez, de personalidade, de paciência, de bom senso, de caráter e tudo mais? Ele era simples, contudo, tinha um conhecimento macro da existência. Ele, mesmo que alguns não saibam, sempre foi meu conselheiro.
Agora, já fazem onze anos de sua ida, mesmo tendo feito tudo o que pude, sem nenhum sacrifício para mim ou para minha família, pergunto: não poderia ter feito, ainda mais? O que o papai queria nos últimos anos de sua vida: tão somente companhia. E será que não o visitei pouco? Ele que sempre tinha um baralho surrado no bolso da camisa. Será que não joguei pouco com ele? Será que uma partida da inocente bisca ou do mais sofisticado “três setes”, onde o sete tem pouco ou quase nenhum valor, não teria acalmado aquele coração? Aí eu me pergunto: será que não me omiti neste particular. Será que não deveria ter jogado mais com ele e lhe proporcionado maior felicidade? Nunca pensei que ele poderia sentir essa indiferença.
Pois bem: Não adianta chorar agora, não adianta espernear, não adianta posar de vítima ou de mau, pois, o tempo passou!
Fico pensando naqueles velhinhos que estão acamados, nos asilos ou até mesmo no relento, entregues à própria sorte. Não seria a oportunidade de jogar um baralhinho com eles? Não poderíamos sair da ociosidade e passar algumas horas com eles?
Será que não estamos em falha com algum amigo que tão somente espera a nossa visita?
Vamos repensar nossas ações e dentro do possível, tornar mais feliz a humanidade!
Avelino Malacarne (18/11/2016)