Vez a Vezza

Soa como se fosse extraído dum livro de contos escolares o nome pomposo e ilustre: Vezza d'Alba França. Mas foi verídico. Aparentemente, criação de um avô, homem de leitura e imaginação. O que era pouco comum naquele Brumado povoado das primeira décadas do século vinte.

Afinal, a atividade econômica ali, além da ancestral agro-pecuária, e um tantinho de mineração, passara a viver em torno de uma fábrica de tecidos que lá se estabelecera, formando ao seu entorno uma massa operária considerável. Gente laboriosa e determinada que saíra das incertezas da lavoura para um emprego regular estável. Apesar dos rigores na relação patrão-empregado.

E casada com um operário fabril foi que conheci Vezza, quase vizinha até, como regente escolar. Professora, uma distinção, digna do respeito e da admiração da população geral, que, entre jovens casais, filharada, e algum dependente familiar de mais idade, contava algumas centenas. Atividades complementares contavam o escasso operariado da rede ferroviária, um comércio singelo e incipiente e, eventualmente, a algum postulante a um emprego na companhia, que é como se chamava à fábrica.

Iniciei minha alfabetização no grupo escolar do Brumado no ano de 1958. Mas lá fiquei menos de um semestre. O tempo suficiente para ver o vovô de Ivo vendo a uva...E, no entanto, mais do que aos meus colegas de classe, me ative à movimentação das professoras do pequeno estabelecimento de ensino, as Escolas Reunidas José Lima Guimarães, que comportavam quatro turmas, nas suas duas salas.

Dona Iria, a diretora, com aquela sua meiguice imperturbável, guiava as mais jovens Terezinha Lacerda, Gilda Saldanha, Oswalda e Vezza, compondo o corpo docente da povoação. Cada mestra com suas características logo notadas pelos alunos e seus pais. Terezinha e Gilda, vinham diariamente de Pitangui, porquanto Iria, Oswalda e Vezza eram as residentes. Oswaldo era reconhecida - e temida - pelo seu rigor disciplinar.

Já a vizinha Vezza - cujo rosto cativante eu redescobriria mais tarde, e mais moça, no Museu Histórico de Pitangui - a sede do município, num quadro de formatura de 1952, ao lado de 3 ou 4 outras formandas, estava destinada a transcender a atividade meramente pedagógica da regência de classe.

Embora com as obrigações maternais de um casalzinho composto de Teozinho e de Sil, por seu empreendedorismo e visão de futuro, romperia as barreiras do imobilismo didático para alçar vôos mais elevados, nas áreas da supervisão escolar e do enriquecimento curricular.

Não fui aluno seu, mas me honrou compartilhar com ela aquela pinta no rosto que, senão de regência, ao menos de aparência - e contida saliência nos tornava afins: a dela, do lado direito do queixo, a minha no canto esquerdo da boca...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 05/03/2017
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