DOUTOR AMORIM

• “Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez”.

• William Shakespeare

Desembargador José Antônio de Amorim, Amorim para nós, os íntimos: a noticio do teu passamento não nos pegou de surpresa já que estavas no leito de morte há algum tempo da terra mas te asseguro, meu nobre homem, as pessoas que amamos nunca morrem, apenas partem antes mas as pessoas especiais, as iluminadas como tu, quando partem, uma tristeza inenarrável nos invade o coração independente do tempo e do espaço. O passado torna-se presente, um passado com sabor de futuro foi este o teu passado entre nós. Meu Deus! Que legado nos deixaste, Dr Amorim! Amorim para nós, os íntimos... Com certeza, estás feliz com esta partida pelo dever cumprido. Está sendo uma partida repleta de sabedoria porque a morte te tirou somente a vida mas, nós que ficamos, revendo o passado em tua companhia, te pranteamos, mesmo sem querer, algumas lágrimas rolam em muitas faces repletas de gratidão e muito amor.

Sabemos que neste vale de lágrimas nada é tão certo quanto a morte, sem esta a vida não teria significado algum.

Mas o teu amor à vida que viveste entre nós, faz perdurar a tua imagem porque viveste a plenitude em ser completo antes de cerrar os olhos para sempre.

Amorim é bezerrense da gema, filho de uma família tradicional, honrada e temente a Deus, foi seminarista no seminário menor e maior de Olinda, católico fervoroso, formado em direito, incursionou pelas cidades do interior como juiz de direito, fundou o ginásio São José, no final da década de 50, juntamente com o Monsenhor José Florentino, Dona Elsa Alcântara, Dona Inês Azevedo e a irmã Maria do Socorro Amorim. Cursou a Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco. Casou-se com Dona Neuza com quem teve um filho, Pedro Paulo. Sempre esteve ligado ao magistério, tinha os grandes pensadores contemporâneos e filósofos gregos – Sócrates, Aristóteles, São João da Cruz, Nietzsche, Teilhard de Chardin, como seu Paradigma.

Defendeu sua Tese de Doutoramento na Universidade de Pernambuco, tornou-se um juiz de direito obedecendo rigorosamente os ditames da boa conduta e deixando-se reger pela lei vigente. Além de exercer a profissão de Juíz de Direito, Amorim não esqueceu ou relaxou a sua nobre missão de diretor e fundador do Ginásio São José dos Bezerros, sempre com criatividade e brilhantismo.

Era um homem carismático com personalidade marcante, típica de pessoas que assumem uma postura na vida, demonstram claramente suas ideias, seus objetivos e seus sentimentos. Espírito jovem, quando acontecia alguma cerimônia religiosa relevante, Amorim ia de casa em casa conclamando os jovens rapazes para entoarem hinos de louvor durante a Santa Missa oficiada pelo Monsenhor José Florentino, o seu guia espiritual. Quando estava de folga, ia jogar futebol de salão na quadra do ginásio, à noite. Foi um ser humano impossível de passar despercebido, despertava sentimentos fortes em todos seus relacionamentos e com isso marcou sua presença na vida de muitas pessoas . Muitas vezes decepcionou-se com a natureza humana, mas nunca desistiu de acreditar nela. Ensinou, propagou e lutou pelos valores morais e éticos

Amorim esbanjava energia e vigor. Ativo e com a excepcional capacidade de tirar proveito de qualquer situação, enfrentava os desafios por pior que eles fossem. Na medida do possível, mesmo acometido pela doença que o dizimou, tentava passar essa visão positiva das situações para todos ao seu redor. Sempre tinha uma palavra de estímulo para as pessoas progredirem e serem mais felizes. Amorim foi tão igual a nós, tão irmão, tão fecundo e amável que é-nos impossível mudar os tratamentos Amorim ou você para Doutor, Desembargador ou outro e qualquer tratamento que criasse certo distanciamento – só nos era permitido o tratamento de Professor, mesmo assim porque nos aproximava mais. Nem ele queria que isto acontecesse.

Eis a razão pela qual o Professor Amorim não podia ser feliz sozinho, trancado na ilha do lar ou de seu egoísmo, sem a sua alma aberta e participante às aspirações coletivas dos jovens bezerrenses de sua época. Não é sem razão que pranteamos este baluarte, este nosso herói do bem querer que nos deixou a lição da partilha, a motivação maior pela qual a sua plena felicidade foi fazer os outros felizes. Hoje sabemos, através deste homem de Deus, que não se pode ser feliz quem não educa a visão intelectual, a sensibilidade, a forma de querer. A conquista da felicidade é uma vitória do espírito, do tempo, da humildade e sede de saber, a formação de um estado de consciência que esteja em consonância com o momento que se está vivendo e com tudo aquilo que o cerca. Todas estas afirmativas descrevem a vida participativa deste nosso irmão que ora parte para o Reino Esplendoroso da Alegria. Identificava-se muito com os bons atos, com os bons pensamentos e o bom proceder, porque era assim que ele vivia. Colocava a felicidade onde estava e fazia de tudo para irradiá-la ao seu redor.

Em suas conversas com os jovens, explicava que o único patrimônio com valor é o espiritual, intelectual e cultural, porque ao perder esse, já não reconhecerão a si mesmo e o resto não terá significado algum. Assim ele ensinava os valores que permeiam a caminhada rumo à perfeição.

Mostrava que o estilo de vida, que a retidão de caráter propicia a elevação da criatura a um patamar mais humano, dotado de compreensão e amor, não pela gratuidade dos gestos, mas pela devoção em viver com a consciência tranquila, do dever cumprido, porque essa oportunidade é real para aqueles que não se restringem em viver por viver e nem se limitar a viver uma vida inútil e sem sentido, mas sim para uma vida plena. Afirmava, em palavras simples e de ampla compreensão, que esse comportamento confundia o trabalho com o lazer e assim, cada um daqueles jovens podiam identificar sua vocação ao sentir felicidade naquilo que fizesse..

Foi um homem vitorioso com muito orgulho de tudo que construiu e conquistou em sua vida, mas era também suficientemente humilde para continuar constantemente aprendendo. A curiosidade humanística o mantinha em estado de alerta captando tudo ao seu redor e colocando sua mente anos luz à frente de sua geração. Sua constante convivência, admiração e respeito aos jovens o mantinha atualizado e integrado socialmente. Mas não se continha apenas em saber. Precisava também passar adiante o que aprendia. Didaticamente e com muito entusiasmo sempre tinha novidades para contar, qualquer encontro com ele, por mais informal que fosse, acabava sendo rico de informações e ideias.

Era um eterno professor e dizia que o exemplo não era uma maneira de ensinar, mas sim, a única . Sempre dizia aos jovens: “Melhor que o sonho é sua realização. Sonhem, mas sonhem alto e lutem para realizar seu sonho!”

Aqui eu completo o que ele não disse, mas estava implícito em seu comportamento. Nunca deixem de ter um sonho. Quando este se realiza é necessário encontrar outro.

Até quando pode, com seu pensamento positivo, tinha o sonho de vencer a doença. Nunca pensava nela diretamente e continuava trabalhando com suas ideias, em constante ebulição. Com certeza, enquanto teve forças para lutar, sonhava em criar alguma coisa útil para estimular Jovens Talentos. Assim driblava qualquer dificuldade, canalizando toda sua energia para algo positivo e criativo.

Com certeza, em seu leito de morte, ao ver os familiares sofrendo com sua dor, em um solilóquio último de sua veneranda vida, ele dizia: “ ninguém podia ter tudo na vida e que não se sentia no direito de lamentar, porque tinha ido muito além de suas conquistas morais, intelectuais e profissionais, tinha sido um homem público, para o público e pelo público, tinha formado geração, tinha amado para valer, tinha sido jovem entre os jovens, foi DOUTOR JOSÉ ANTÔNIO DE AMORIM! Tive a honra em ter sido professor do Ginásio São José quando ele foi diretor deste estabelecimento de ensino.

Nunca perdeu a oportunidade de manifestar o orgulho que tinha do filho que optou pelo caminho da medicina, dos primos, - quem não lembra do tratamento “priminho” que as primas o tratavam? - sobrinhos e netos, provavelmente.

Seu objetivo sempre foi abrir a mente dos jovens, estimulando-os a terem ideias próprias, objetivos claros, a terem um sonho e a persegui-lo, com garra. Sentia-se realizado e feliz ao ver esses jovens conquistando seus espaços na vida

Com este seu recente falecimento, com certeza, podemos testemunhar que ele realmente alcançou o seu objetivo. Muitas manifestações de pesar serão publicadas, depoimentos de quanto ele havia sido importante em suas vidas. Será sempre lembrado com carinho por sua força vital admirável. Amorim foi um homem feliz. Até em seus últimos dias, foi um ser humano exemplar, com verdadeira paixão pela vida.

Tenho certeza que deixou um legado de seguidores, plantou muitas sementes que continuarão seu trabalho aqui na Terra por uma infinidade de gerações e assim, ele continuará vivo em nossos corações.

IN FINEM DILEXIT – “amou até o fim”.

Carlos Lira

clira
Enviado por clira em 07/02/2017
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