Invocação à Dionísio
Dionísio,
tantas vezes
te chamo,
tantas vezes
não há luar
e o sal
cobre a terra,
tantas vezes
sem precisão
ou amor
ou lascívia
a noite
se infiltra
pegajosa
pelas persianas
vinho-tinto
da sala de estar,
esquadrinhando
os cantos
e frestas
e dobradiças
com tuas
apressadas mãos
sob a mobilia:
meu corpo
de barro,
entregue
ás tuas
carícias.
Dionísio,
tantas vezes
te chamo
por clamor
ou reverência
ou algo
igualmente
profundo,
tantas vezes
me sonho
gemendo
e ganindo
na luz
sobrenatural
dos teus ritos,
tantas vezes
tantas
e muitas mais
guardarei
por ti.