MAL DE ALZHEIMER *
Ao poeta Jack Agüeros
Não há tristeza maior
que um poeta sem poesia.
Sem as palavras que lhe dão
toda a alegria de viver...
A importância da memória
deve ser algo bastante incrível.
Alguns me chamam de poeta!
Não estou bem certo se já escrevi
algo em minha vida.
Se escrevi não me lembro mais.
Eu até que gostaria de escrever,
pois acredito que nunca escrevi antes.
Não tenho lembranças de nada.
Chamam-me de maluco, insano, (...).
Dizem que fico noite afora até raiar o dia,
rodeado por montanhas de livros.
Eu bem que gostaria de escrever
alguma coisa, alguma palavra
ou quiçá um pequeno verso;
mesmo que fosse torto.
Muito dificilmente me lembro
de ter passado alguma noite sem dormir,
mas não sei se foi escrevendo não.
Há quem me chame de maluco das noites.
Dizem que passo as noites escrevendo
ou entre os livros, sem razão, delirando.
Acho que vou tentar escrever qualquer coisa,
não sei ainda. Talvez o que me vier na cabeça.
Ouvi dizer que isso faz bem para o coração
e que eu já escrevi alguns poemas.
Não me lembro de meus poemas.
Não estou certo se são bonitos.
Eu já escrevi algum antes?
Serei capaz de amar a uma pessoa
como ela é, mesmo sem eu a conhecer?
Não me lembro de nada que se passou.
Não sei o que é futuro, só momento,
pois o que tenho hoje,
amanhã pode se perder.
É algo como a memória.
Não me preocupo com o amanhã,
pois não há tristeza maior
que um poeta sem poesia
ou uma palavra sem melodia.
Isso seria o mesmo
que uma memória apagada
ou um livro de páginas em branco.
Nova Serrana (MG), 06 de julho de 2011.