Maria, Maria, Morte e Vida.
E agora, Maria? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu e a noite esfriou?
O que Vai Ser de você sem uma dose de êxtase semanal? O que vai ser de você sem aplausos, olhares e palavras bonitas? Não tem mais a porcaria de um vidro âmbar pra cheirar e sentir seu coração bater acelerado e seus olhos verem o céu diferente? Meus sentimentos.
Não existe glória Maria querida, console-se depressa. Está sem mulher, sem discurso e sem carinho? Já não pode beber, fumar e cuspir? O dia, o bonde, o riso e a utopia não vieram? Mas que novidade! Você acreditou mesmo, Maria? E agora?
Disseram por aí que você tem esse poder, sabe, de ser Maria estraga tudo. Poderia muito bem ter sido Maria vai com as outras, estaria em um lugar seguro. Poderia ter sido Maria ninguém, sua mãe já é assim. Deus deu asas a sua cobra? Deu sim.
Ouvi falar também que você arriscava umas palavras e que mostrou ela para os outros e eles disseram que eram palavras boas. Você ficou feliz, não ficou Maria?
E a alma forte que está ao seu lado? Deve estar se perguntando que alma forte é essa, porque você se faz de burra desse jeito? Aquela alma que brilha no sol e ainda mais no escuro, aquela que tem o poder de ir para o inferno e subir aos céus em duas linhas, aquela cujo coração você machuca todos os dias, lembrou-se agora? Você a fez chorar esses dias, e aí você chorou também porque você é fraca e ela, de tão maior que é, parou para enxugar seu rosto. Quem você acha que é? Você não tem vergonha?
Ah Maria, você afundou hein?! Olhe bem para você. Essas olheiras roxas, essas roupas velhas, esse ar de nada, esse seu cabelo sem brilho. Aliás, onde foi parar o seu brilho Maria? Você o perdeu feio dessa vez, tem até gente o procurando por você...
Está escuro aí? Não consegue mais responder? Não quer se defender, Maria? Você já foi melhor.
Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio- e agora?
Nem pra pensar sozinha você serve mais? Porque esta debruçada aos prantos sobre o poema do José? Você quer ser um deles, Maria? Se for, admita, fugir não vai adiantar, a verdade sempre chega...não, espere, você está cansada, está exausta, não está? Pare por aqui então, essa é sua chance, não vai doer nada, eu prometo.
Apague os vestígios, delete tudinho, linha por linha. Isso mesmo, agora vá até o porta-joias e coloque seu brinco de serpente. Ótimo. O batom vermelho quer muito encontrar seus lábios Helena querida, digo, Maria querida, pegue-o e passe-o em seus lábios enquanto manda essas bruxas ridículas rezando aí dentro calarem a maldita boca.
Veja, suas unhas já estão escuras, você as pintou antes de conversarmos, já estava certa do que iria fazer não estava? Boa garota. Ela está quase saindo, não está? Ela é poderosa não é? Sedutora, esperta, mulher mesmo.... Não seja mais essa criatura choramingando por aí... por favor Maria, faça esse bem imenso a ti mesma e deixe Helena tomar conta das coisas, ela sabe o que faz. Helena sabe o que faz, sabe o fim.
Espere... porque está olhando assim Maria? Porque tirou os brincos? Não seja fraca criança tola, coloque já esses brincos novamente! Não seja desobediente Mariazinha, você vai se arrepender e sabe disso. Estávamos quase lá, porque você sempre estraga tudo? Porque você é assim? Porque não se permite ganhar? E agora, Maria? Você mandou a Helena embora, ela vai ficar furiosa com você. E agora?
Você não está fazendo isso! Você não pode estar fazendo isso mais uma vez Maria. Você vai rezar? Vai pedir ajuda aos céus? Vai ajoelhar no piso gelado e apertar suas mãos uma na outra até as unhas fincarem na pele? Você vai fazer aquela lágrima de misericórdia sair dos seus olhos? É, você vai...
Não vou desistir de você, mas sabe, esse negócio de desvantagem não é comigo. Você ainda é mais delas do que minha, mas saiba que eu estarei aqui, penteando os cabelos de Helena, perfumando-a para quando você a deixar sair. Eu sempre estarei aqui com um “e agora?”
Não vou te deixar esquecer Maria...
Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse...Mas você não morre, você é dura Maria!
Maria, para onde?