Ao Meu Irmão de Fé e de Sangue.
Ao meu irmão de fé e de sangue.
“Não se traduz a natureza. Incorpora-se a ela, vive-se ela nos olhos e no tato.”
É assim este meu irmão, não quis as letras e nem os números, mas dominou como ninguém a língua dos pássaros, das árvores, do rio e dos animais silvestre. Aprendeu a ler a noite e suas luas, as estrelas e seus caminhos desenhados na imensidão do céu. Do ventre da terra arranca a doçura do curau, da pamonha e do bolo de milho verde.
O mel, rouba-o das abelhas e o saboreia no favo, as folhas verdes, colhem-nas no fundo do quintal. Os frutos, só os colhidos nos galhos envergados pelo peso da vida. Tem nos pés a ligeireza das lebres em fuga.
Defuma o mundo com o cigarro de palha, a mesma palha que reúne as varas de pesca dos finais de semana nos rios e lagoas lodosas que matam a sede e enche de leite as tetas inchadas das vacas leiteiras. Traduz a vida em palavras e frases curtas, num murmúrio de serpente em forma de riachos que cortam o campo e esta amizade.
Há entre nós uma cumplicidade germinada na infância, nos pecados repartidos, nos segredos cujas raízes atravessam o tempo e o espaço. Juntos, aprendemos a fazer o nó que não se solta, a enganar os peixes, a acuar a caça, a escalar as árvores e as primeiras formas de amar. Juntos, aprendemos a criar as primeiras histórias e as primeiras brigas.
Juntos, tentamos adestrar a bola, mas o café é feito do gesto repetitivo, mecânico e sem sentido, prefere às mãos aos pés, fomos nos integrando a terra e aplaudindo outros pés. No tempo,ele foi se fazendo mais café e, eu, me distanciando dos cafezais, mas não dele, pois não se afasta daquilo que é parte de você.
Um grande abraço meu irm