ODE ao POEMA SUJO (homenagem - Ferreira Gullar)

ODE ao POEMA SUJO (homenagem - Ferreira Gullar)


Vai-se embora o poeta.
E a tristeza que fica é como nuvens que cobrem o clima-ambiente.
Como legado, deixou seu 'poema sujo' demais.
Tão sujo, tão sujo, tão sujo...
que eu no meu toc de limpeza,
lavei as mãos,
limpei a escrivaninha,
desinfetei os textos,
e lavei tudo que podia lavar (menos a alma).

E no meu auto-crítico olhar,
vi que tudo havia sido estragado,
desmantelado, deformado, desvirtuado,
pela vil limpeza humana, desnecessária.
As coisas apenas tem que ser o que são. 

Então sujei tudo de novo,
com ênfase, 
'proveitei' e rebusquei tudo a torto e a direito,
com todas as escórias e podridões que temos da oferta alheia. 
E tudo brilhou novamente
(não por mim),
mas por ele,
que já não está mais fisicamente entre a gente.
 
Do sujo,
sujeito, 
ao limpo, limbos desnudos, 
e sujo ao escárnio, 
enfadonho, 
sujo então, novamente, 
até o aterro final, 
eternamente. 

Salve ele, poeta Ferreira Gullar.

obs: eu sempre fui um fã e admirador convicto do poeta Ferreira Gullar.
Antonio Jadel
Enviado por Antonio Jadel em 04/12/2016
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