ADEUS, MÁRIO SOARES

Mário Soares morreu como viveu: sozinho. Nunca foi um sujeito de muitos amigos. (Mas, quem são os nossos verdadeiros amigos?) Isso não quer dizer, entretanto, que fora um desamparado! Mário fazia dele a sua precisão. Ele era um Mário Soares de Oliveira, e só.

Maroquinha sofria de transtorno de tudo; sofria por querer viver. Era de uma garra e também de uma inércia... Ele era emblemático. Um símbolo da pouca vaidade; e da insistente necessidade de ser reconhecido.

Sentiu-se mal hoje cedo, retirou-se para um canto da biblioteca, onde trabalhava como gerente de cultura, e ali deu seu derradeiro suspiro; o calendário datava 30 de junho de 2008... – Dissera estar se sentindo mal e pediu para que lhe fizessem um chá; um pouco ofegante e com a mão friccionando o peito, sentou-se num banquinho de canto de muro, onde cresce um jardim meio sem graça. O socorro médico não foi suficiente.

Uma sombra parca, que descia de uma parede lateral, amainava o ambiente.. e havia ali quem não conhecia a história de Mário Soares. No mesmo local onde caíra morto, vestiram-lhe uma indumentária de cadáver. Mário não merecia um espetáculo para os alheios: um ato que não gostaria de ter encenado, tão cedo. 53 anos. Mas, Deus é que sabe.

Não chegava a ser uma pessoa frustrada, pois já muito oferecera a cultura patoense, porém vivia desafiando -se. Assumira recentemente a responsabilidade pela organização da banda de música;

Idealizou a junina da Espinharas, rua de sua mocidade; representou a APAE; foi responsável por trabalhos culturais no parque Cruz da Menina; mentor e primeiro presidente da Associação de Imprensa do Sertão Paraibano; era administrador do centro de cultura Amaury de Carvalho...

Um Mário com o seu hábito de fumante inveterado; “bebericando”, quase sempre; falando alto, e maldizendo a vida. Mas, quem o conhecia sabia que isso era tão peculiar quanto o seu andar cabisbaixo. Mário Soares podia contribuir mais; porém, a vida madrasta lhe impunha condições que o seu estilo de vida não acompanhava. Poderia se tornar uma pessoa folclórica, no pejorativo da palavra, quando na realidade era um homem afeito às letras – pensante - reflexivo.. Mário teve o seu valor, principalmente para aqueles que o entenderam e o respeitaram.

Mário dizia sentir as dores do mundo. E pode ser que isso o tenha levado. A notícia da morte é outra coisa triste. É quando todos os pensamentos convergem para a angústia. E se perguntarem quem fora Mário Soares, responda, sem cerimônias... - algo que ele nunca fizera questão em vida: - Mário Soares fora ele mesmo.

Misael Nobrega
Enviado por Misael Nobrega em 01/11/2016
Reeditado em 17/09/2023
Código do texto: T5809957
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