UMA GRANDE ESCRITORA

" E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome!”

Considerada uma das maiores e mais importantes escritoras negras do Brasil, Carolina Maria de Jesus (1914 – 1977) era mineira, mas moradora da favela do Canindé em São Paulo, onde trabalhava como catadora e escrevia seu cotidiano nos cadernos que encontrava no lixo.

Mesmo tendo cursado somente as séries iniciais do primário, Carolina reuniu cerca de vinte cadernos com relatos do cotidiano na favela, um deles deu origem ao livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, de 1960. O livro já possui três edições, com 100 mil exemplares vendidos e traduzido para 13 idiomas.

carolina-maria-de-jesus-beleza-black-power.png

As obras publicadas de Carolina, foram:

Quarto de despejo (1960)

Casa de Alvenaria (1961)

Pedaços de fome (1963)

Provérbios (1963)

Publicações Póstumas

Diário de Bitita (1982)

Meu estranho diário (1996)

Antologia pessoal (1996)

Onde Estaes Felicidade (2014)

Mulher, negra e pobre, Carolina não despertava interesse, uma vez que suas obras eram consideradas importantes somente quando retratavam o sofrimento e a face negativa da favela, mas não quando relatava as ideologias de uma mulher que buscava a atenção da imprensa e do público.

A história de Carolina daria um artigo enorme, triste e ao mesmo tempo de uma força incalculável. Suas obras são leituras obrigatórias.

“Comecei a sentir a boca amarga. Pensei: Já não bastam as amarguras da vida? Parece que quando eu nasci o destino marcou-me para passar fome. Catei um saco de papel. Quando eu penetrei na rua Paulino Guimarães, uma senhora me deu uns jornais. Eram limpos, eu deixei e fui para o depósito. Ia catando tudo o que encontrava. Ferro, lata, carvão, tudo serve para o favelado. O Leon pegou o papel, recebi seis cruzeiros. Pensei em guardar o dinheiro para comprar feijão, Mas vi que não podia porque o meu estômago reclamava e me torturava.(…)

Resolvi tomar uma média e comprar um pão. Que efeito surpreendente faz a comida no nosso organismo! Eu que antes de comer via o céu, as árvores, as aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos.”

Excertos da primeira edição de “Quarto de Despejo”, de agosto de 1960.

_______________________

>>Referências

Brasil lembra centenário de escritora que definiu favela como quarto de despejo

http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-03/brasil-lembra-centenario-de-escritora-que-definiu-favela-como-quarto-de

Mulher e Negra: as memórias de Carolina Maria