CENÁRIOS INACABADOS
Antonio Costa Dantas... – Era um construtor de cenários. Vivia para o trabalho. Vivia a noite e vivia o dia... - Era um menino-grande. Brigava pelo que achava certo, mesmo que lhe custasse desafetos. E gritava com o rei e com o vassalo. E isso era dele; próprio; constante; inato... - Tão logo passava a raiva... Era ele de novo. Odiava ser contrariado. Mas, odiava odiar. Perfeccionista; desconfiado; intrigado; incomodado. Um monte de gente perdeu a chance de conhecer Antonio Costa. Ele não deixava. Até que nos deixou, sem adeus. Uma pausa na inquietação do último minuto. Longe da cidade de Patos; longe do terço dos homens; longe do Nacional; longe das passeatas nos períodos eleitorais. - A notícia e o velório; pranto e o enterro; a dor e o sepultamento. A vida que teima em terminar assim. Ficarão para trás os dias de tudo: - a família que ele construiu; os amigos que ele construiu; a cidade que ele construiu; as festas que ele construiu. Inventando, recriava-se... - E a si mesmo dizia: – Eu posso! E assumia o ônus . Ora genioso; ora emoção; ora presunçoso; ora truculento; ora perdão pelo poder do perdão. O canto da arquibancada-sombra no José Cavalcanti; a cadeira junto ao birô no gabinete do prefeito; o entra e sai do terreiro do forró na preparação dos eventos; as vezes em que fui na sua fábrica; o bate-papo nas manhãs de sábado na banca catedral. As reuniões na campanha eleitoral; uma noite quando fui buscar bandeirolas em sua casa para um comício... Imagens que guardo de Antonio Costa. Quem lhe tirou a vida foi a própria vida. Como aceitar que um dia seremos nós a nos despedir do que consideramos o único cenário que conhecemos? Não há o que dizer que justifique o propósito de Deus. Mesmo que haja o pranto; o luto; o vazio em si mesmo... – Depois, a fé e a esperança... - A vida que não emperra nunca. Não há lição melhor. Quem se achar diferente, que se engasgue na empáfia. Nada nos pertence. E que este instante seja de silêncio, em consideração aos que se foram primeiro. Alguém pediu para eu escrever algumas palavras. Antonio Costa era um homem de bem... – E, por isso, o julgamento será divino. Aos homens não competem o jugo. Cabe-nos, apenas, o dever de encomendar a alma. E ficamos para terminar os seus cenários inacabados e para dar vida a outros por ele inspirados... - Assim retiro o que disse. Ser dádiva é reflexo do criador. Antonio Costa não foi tão somente um construtor de cenários; foi um artífice. - Descanse, Antonio Costa Dantas, descanse.