Panelão na bandeja
Rimava, se aprumava e se arrumava com leilão, o Pedro Panelão. A razão do apodo não me alcançou saber e tampouco cheguei a inquirir a respeito. Talvez ficasse mais apropriado tratá-lo por Pedro Bandejão, pois afinal era pela bandeja que se ofertavam as iguarias a serem leiloadas nas quermesses da cidade.
E na mais central delas, a Barraquinha de Nossa Senhora do Pilar que, ao cabo da novena em honra da padroeira da cidade, o dia 15 de agosto, chegava-se à apoteose. Feriado na cidade e praticamente toda a cidade esgrimindo-se em torno da grande barraca para ver as mais variadas performances vocais, interpretativas e tudo mais. Os mais abastados ocupavam as mesas espalhadas naquele espetacular salão improvisado, montado e desmontado, a cada ano passado. Já os menos, abestados, nos apinhávamos nos arredores...
Imperdíveis as atrações, locais e as convidadas. Quem não se lembra das hermanitas Cayta e Elza Marcelino com seus trinados angelicais, das irmãs Souza, filhas do Arcanjo Miguel, e pra ficar na família, do sobrinho delas, nosso Johnny Mathis Pelé? O Professor Antônio de Oliveira firmando a escadeira pra nos mimosear com sua Interesseira... E o Albino, João, trazendo Coimbra do fundo do coração...Bimba com suas graças, num apertado maiô que ao vê-lo o austero páraco Guerino quase des...maiô...
E dos de fora, comandados pelo Ubaldino Guimarães que entrava em cadeia com rádio de BH para levar e elevar o som ao mais recôndito dos lares da cidade? Célio Balona, Os Cariúnas, Caxangá...ajudem aí, moçada da memória mais afinada...
E entra o Pedro, imaculado em seu terno de linho branco, entremeando cada ato, anunciado as prendas na mais espalhafatosa voz. Sons e perdigotos disputavam quem ia mais longe. E Pedro, arrebatado e arrematador virava a estrela da festa, tanto do alto do palco, como por entre as mesas:
- Óia a leitoa assada...quando me já dão pela bandejada...?
Com os olhos compridos para a oferta de Panelão, parodio um tango argentino, Bien Bohemio, de Sara Reiner, interpretado pelo fabuloso e saudoso Julio Sosa, sublimo, citando-lhe um trechinho...
...Yo he cenado muchas noches
con un verso de Carriego,
con diez guitas en el bolsillo
hasta supe sonreír...