Potro argentino
A Argentina tem uma história longa e rica com o mundo eqüino. O próprio Gardel, um dos ídolos-mores dos germanos platinos, celebrizou essa devoção com a canção Por una cabeça, que fala da paixão irrefreável pelas corridas de cavalos.
Até eu mesmo senti-me por uma vez ingressar nessa nobre história quando, durante um modorrento plantão no Itamaraty, num sábado ou domingo, há um quarto de século, recebi a incumbência do então Secretário-Geral da instituição, um Embaixador carioca, de nome Azambuja, de localizar-lhe, com urgência, o poderoso Ministro da Economia portenha, Domingo Cavallo. Contatos telefônicos estabelecidos, chegou-me a notícia de que o mesmo fora encontrado no hipódromo. Meno male, pensei. E se tivesse sido no pasto?
Toda essa longa e quiçá fastidiosa apresentação, para chegarmos ao Potro.
Juan Martín Del Potro é atualmente o mais destacado tenista argentino, terra fértil à formação de desportistas que vivem dessa bolinha amarela.
Entre seus antepassados, encontram-se ninguém menos do que os grandes Guillermo Vilas, José Luís Clerc, Gastón Gaudio, Gabriela Sabatini, David Nalbandián, só para citar os que me vêm à memória imediata. Pense no Brasil, por exemplo, a título comparativo: temos Gustavo Kuerten, Maria Esther Bueno, e quem mais, de expressão mundial...?
E retomemos o Potro, originário de Tandil, que também impressiona por sua figura atleticamente cavalar, do alto de seus quase dois metros de altura e sedutora aparência. Ganhou a prata olímpica na especialidade, no Rio de Janeiro. Perdeu a final, dramática por sinal, para o escocês Andy Murray que é também um monstro. Quem sabe até, uma re-incorporação do misterioso monstro de Loch Ness. Segundo do mundo na classificação geral, atrás apenas de Novak Djokovic, da Sérvia, Andy parece determinado - e bem preparado - para arrebatar a dominação de Djoko. A menos que ele ainda Andy à frente...
O que impressiona na circunstância, contudo, é que Del Potro, que já chegou à posição de quarto do mundo em 2009, vinha de uma sucessão de operações só parcialmente bem-sucedidas, para lhe restaurar o também cavalar, mas conturbado punho - calcanhar de Aquiles dos tenistas.
E desta vez deu certo. Ao longo da trajetória olímpica Del Potro destruiu pedreiras intransponíveis como o próprio Djoko e Rafael Nadal. E nem mesmo na perda do ouro para Andy Murray, e consequente consolo com a prata, Delpo - como é carinhosamente chamado pelos conterrâneos - muito batalhou, muito suou - e não desmunhecou.