Para você, inesquecível Roberto, amigo de minha alma!

Você se lembra? Claro! Sempre guardou todos os pequenos detalhes mais do que eu. Mais ou menos em Setembro, de 1959; cheguei naquele escritório pela primeira vez, para trabalhar. Meu primeiro emprego em São Paulo, foi naquele almoxarifado, onde nosso trabalho era destacar notas fiscais, soltando-as dos carbonos.
Primeira pessoa para quem olhei e que me chamou a atenção, foi você; mas eu também chamei a sua, porque seu olhar me acompanhou, até que eu me acomodasse em algum lugar; lembra-se de qual foi o primeiro nome que você me deu? Dona Abobrinha! Que nome, meu Deus! Dona Abobrinha! Nem sei de onde você tirou; achei graça e sorri e este foi nosso primeiro contato; daí para frente, não nos separamos mais, durante todo o tempo em que trabalhamos naquela empresa.
Porque era assim? Porque havia uma grande afinidade, confiança mútua, carinho, muita amizade e dedicação. Quem tinha uma amizade tão bonita assim?
Ficamos ali naquele almoxarifado, durante mais algum tempo, até que a empresa construiu uma só sede, para onde fomos todos transferidos. Um grande escritório muito bem montado, com salas de vidro no meio, onde ficavam os diretores, enquanto nossos departamentos cercavam aquele grande “aquário”, pois era assim que chamávamos as salas dos diretores.

Tudo o que se passava lá dentro, nós víamos pela transparência dos vidros. Você e eu pertencíamos ao mesmo departamento, do qual assumi a subchefia em tempo muito breve; fui escolhida pelo Sr. Enoch. Que pessoa linda ele era! Que admiração eu sentia por ele, pela sua educação, simpatia, doçura em nos tratar a todos.
Tudo era muito bom, muito divertido, porque precisávamos de pequenas coisas para ser felizes; à hora do almoço, quando nos sentávamos na escadaria para tomar nossos lanches, ficávamos perto um do outro e trocávamos nossos lanches.
Pão com manteiga e marmelada! Este era seu lanche muitas vezes; que delícia! E o que levava eu, nada mais era do que um pãozinho com uma kafta assada e que você gostava.
Faltava dinheiro para freqüentar restaurantes. O máximo que podíamos fazer, era comermos de vez em quando, salsichas com purê de batatas nas lojas Brasileiras. Mas era um banquete! Quando descobríamos um lugarzinho onde podíamos almoçar a um preço razoável, nós íamos. Não importa quem estivesse conosco; éramos um grupo de companheiros alegres, porém, amigos, éramos eu e você.

As confidências, os problemas com as namoradas, as cartas para as namoradas... lembra-se? Seus exercícios escolares, eram resolvidos por mim e suas cartas, escritas também por mim. Você apenas dizia:

 
Nagetinha, escreva uma carta para fulana e diga-lhe que ... ”.
Assim, eu escrevia em seu nome; e seus exercícios de escola?
“Roberto., como quer que eu faça?”
“Querida, isto é com você! Eu só quero pronto!”.
Você vai “se virar”. Não quero saber!”

 
Então, saía rindo, sabendo que eu faria tudo certinho.
Quanta coisa para lembrar! Era nossa história! Assim, transcorreram quatro anos em que esta amizade só se tornou sólida. Apesar de todos os que nos rodeavam acharem que tínhamos interesse um pelo outro, sempre foi uma grande e bela amizade.
Olhe, hoje é dia 08 de Setembro de 2004; são 23:35 e estou completando 61 anos de vida. Ontem à noite, falei com Marlene e ela me disse que você não está bem. Portanto, hoje o meu dia foi uma mistura de alegria e tristeza; recebi alguns amigos, mas você não sai do meu pensamento. Estou muito triste! Estarei falando com você sempre; vou me sentar diante deste computador e escrever cada memória nossa.

08/09/04 23:40:08 - naget - 

Najet Cury, transcrito em Julho de 2016.

Com saudades imensas de você! Seja abençoado onde estiver!
Najet Cury
Enviado por Najet Cury em 02/07/2016
Reeditado em 03/07/2016
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