HOMENAGEM PÓSTUMA A kATHLEEN LESSA
A vida surpreende. Por isso tenho vontade de escrever sobre essas surpresas. Algumas são festivas, alegres e nos põem pra cima. Outras, ah, as outras... como são fortes e envenenadas! Há venenos mortais. Matam instantaneamente e deixam rastilhos de sentimentos. Mia Couto disse que a morte é como um umbigo: o quanto nela existe é sua cicatriz, a lembrança de uma anterior existência. Cicatriz de uma ferida tão dentro: a ausente permanência de quem morreu [“...] morto amado nunca mais pára de morrer.”.
Soube ontem da morte de uma poetisa, minha conhecida do Recanto das Letras. Kathleen Lessa, fina como a fineza sibilante de seu nome. Cruzou o rio esta artífice das letras, está lá, na outra margem. A morte não é inimiga, pois grande inimiga é a indiferença. Não esperemos essa passagem para termos compaixão ou para dizermos que a pessoa ajudou-nos, que nos presenteou com versos e que disso fez questão, quando nos enviava emails carregados de poesia. Isto não é tudo. É apenas. Em todo lado, mesmo no invisível há uma porta e Kathleen passou por ela. Esperou o mês seguinte, que não chegou e jamais, jamais foi grosseira ou arrogante. Foi mulher, com um quê a mais: FOI POETA. Deus a tenha entre os escolhidos, mulher da poesia! E que Ele perdoe quem não soube compreendê-la, pois você os compreendeu. Evidente!
Dalva Molina Mansano,
15:12
19.06.2016
Homenagem póstuma.