À mesa do Rei Arthur

Reza a lenda que eram entre 12 e 150 os cavaleiros que se assentavam à mesa com o Rei Arthur. E a mesa era redonda. But King Arthur, ruler of Brumado and the conquered surrounding lands and hearts, made it rectangular. E consolidou assim o seu reino do Arrastão. Os frequentadores das noites de terça, contam-se quase sempre de 12 pra riba. E podem bem chegar aos 150 se as respectivas concederem uma anistia geral que, por ora, prevalece para os doze originais, ou um tanto mais. Da Bia, o mais fiel escudeiro tem a memória de todas essas tertúlias.

Mas mantém a mais absoluta discrição. Dá no máximo, uma gestual descrição.

E a função desses nobles caballeros é tombar loiraças ou branquinhas, e da preta, quando disponível estiver, todas goela abaixo, ainda que gélidas se apresentem. Dom Pedro Primeiro, nosso imperador fogoso e breve, viveu a noite das garrafadas numa visita a Ouro Preto, então a capital da província mineral das Gerais, mas teria muito melhor receptividade se tivesse estendido seu passeio ao Pays do Pitanguy, pois ouro abunda ali e a cortesia de sua brava gente, sem igual, é fidalgal e sobretudo figadal

Para a eventualidade de uma embriaguez além da cumeeira etílica normal, há, numa corriqueira ocasião, um, dois ou três, médicos à mão. Se não os tombar primeiro, o garrafão.

Esse encontro tem uma história, que já me contaram ene vezes, mas que sou incapaz de relatar com a fidelidade justa. Aos eventuais leitores, caso se interessem, sugiro façam suas observações e comentários para tornarem a narração mais interativa e mais verídica. Um verdeiro mutirão ético-etílico. O que sei é que já é coisa de bons anos e de Antônio Cézar proponente dos encontros - que se teriam realizado em seus primórdios à beira-rio, depois se tornado itinerantes, até encontrarem a acolhida definitiva chez Arthur. Cézar partiu para a eternidade, deixando olhos marejados e lembranças imorredouras, por sua amizade despojada e, sem nunca deixar a Caldas entornar.

Uns frequentadores são episódicos, como é meu caso, que ainda vivo na vidativa só por teimosia. Mas há um bom número de regulares que nunca deixam a peteca cair, e tampouco de contribuir alternadamente, com as paneladas de acepipes que mimoseiam os mais exigentes paladares. Inclusive o do decano, que não é mero, mas Homero, e Valadares.

A camaradagem é o traço mais visível dessas moas que ao invés de assumirem o formato antigo, do Brumado, de pé, num canto de rua, sentam-se, agora, à volta da mesa e se envolvem nas mais diversas discussões, numa pauta que se constrói a cada ideia, ou falta dela, que pinte. Futebol, religião, piadas, causos, culinária, achaques da idade, rememória de tempos idos, é interminável e toda eventual contenda termina em parlenda. Ou vai pras calendas.

Daria gosto imaginar Dom Aurélio, o pai do anfitrião, ver o filho formado, hipocrático reputado, de tantos amigos cercado, admirado, ainda sóbrio depois de tanto copo virado, honrando o inesquecível Brumado.

As damas contudo, e com tudo, não perdem por esperar. Periodicamente realizam-se as festivas, em que os habituais cavaleiros, tornando-se cavalheiros, prestam-se as homenagens devidas, comportam-se no linguajar, no trajar, e graças dar. Até uma loira, de bandeja, se lhes ofertar...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 09/06/2016
Reeditado em 07/12/2023
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