1888!

...dancem negros..., dancem!
Seu senhorio e sua sinhá quer diversão,
Ou tem outra escolha..., o pelourinho!
Objeto das preferências, ou chicote, ou o açoite.
Sim, e o chicote, também como moeda,
Negras, pulcras a satisfazer a libido insana.
Dos seus donos..., nas senzalas silenciosas.
A aplacar essas sanhas devassas..., perversas...
Dancem negros..., dancem negros..., dancem...
E os negros ainda dançam, dançam nessa sociedade,
Nessa imensa senzala institucionalizada!
Dancem negros..., dancem, as covas ainda jazem rasas...
Também, nessa senzala, moderna, perversa..., agnóstica.
Dancem negros..., dancem, a Constituição os amparam...,
Sois todos iguais perante a lei, dancem negros...
Dancem essa utopia, dancem, dancem negros, dancem..
Dancem essa quimera, essa pérfida, nefasta irresolução!
Dancem..., dancem negros..., dancem nas favelas...
Dancem..., dancem negros..., dancem nas escolas...
Dancem..., dancem negros..., dancem nessa sociedade!
Dancem..., dancem negros, dancem nessa senzala Brasil...
E quais são, as raízes dessa raiva?
Dancem negros...
Albérico Silva