O ENIGMA DO SUSSURRO
Uma criança ouve um som
Marteladas galopantes
E a tristeza num instante
Incorpora com o tom
Coração em badaladas
No compasso o prego racha
E a madeira ultrapassa
E um corpo está na caixa
Vejo os olhos do menino
Com tristeza e emoção
Tem um brilho cristalino
Mas não sabe a razão
Viu o pai ali deitado
Sem fazer um movimento
Por um golpe apunhalado
Mas cadê discernimento?
Entender tudo que via
Uma criança não iria
Por viver na fantasia
O Valmir desta poesia
Viu a caixa indo embora
Como mágica sumido
Mas pensou naquela hora
Ele deve está dormindo
Mas o tempo foi passando
O engenho em silêncio
A alegria despojando
Lhe restava o prenúncio
Do engenho rapadura
A criança viu o doce
Que tornou sua vida dura
De maneira bem precoce
O vermelho no melaço
Da facada traição
Lhe causou um embaraço
Que travou seu coração
Até hoje o mesmo sonha
Com o pai se despedindo
De maneira tão tristonha
Por que não está sorrindo
E o som das marteladas
Seu Valmir guarda na mente
Com a alma esfacelada
Se recorda piamente
Veio então a adolescência
Pra deixar de ser criança
Foi de DEUS a providência
Que lhe trouxe esperança
E buscando na essência
Belos planos a traçar
Ganhou muita experiência
Começando a trabalhar
No trabalho do roçado
Um guerreiro se tornando
Para ser recompensado
Só vivia trabalhando
Então homem se tornou
E lhe chega um presente
Um amor que conquistou
Pois Guiomar lhe faz contente
O projeto foi marcado
Pra uma casa construir
Mas num golpe de machado
Viu o sonho escapulir
A navalha do machado
Fez seu sangue derramar
Nem assim foi derrotado
Retornou a trabalhar
E com muita agonia
Resistiu aquela dor
E na mente o mesmo via
O golpe que o pai levou
E assim ficou mais forte
Com trabalho foi crescendo
E Guiomar lhe trouxe sorte
Logo um filho foi nascendo
E com sua agilidade
Sem parar de trabalhar
Tinha responsabilidade
De um filho pra criar
O planeta ia girando
O suor ia escorrendo
Seu Valmir concretizando
Tudo que tava prevendo
Preparava o futuro
Da família que amava
Seja claro ou escuro
Qualquer hora trabalhava
E então chega a vontade
De uma venda colocar
Mas não tinha a metade
Necessária pra montar
Usando a sabedoria
Numa cama ele expôs
A pouca mercadoria
E pra família ele propôs
Vamos começar vender
Para a vida melhorar
E então conseguiu ver
Um horizonte pra trilhar
A única coisa de comércio
Que o mesmo entendia
Era vender carne de gado
Pois o mesmo já fazia
E ajudando as pessoas
Mercadoria ali trazendo
Para todos era uma boa
E dessa forma foi fazendo
E a família já maior
O comércio ali cresceu
Foi no Itapicuru
Que essa história sucedeu
Lindas filhas de presente
A família então formou
Quatro filhos realmente
O bom DEUS lhe ajudou
Um exemplo de humildade
Trata todo mundo bem
Indo embora pra cidade
Seu comércio foi também
Um comerciante forte
Esse amigo se tornou
E não foi apenas sorte
Seu suor lhe ajudou
Das lembranças de criança
Para sempre vai guardar
Um momento de esperança
Que previu seu pai voltar
Lhe restando um silêncio
Um barulho então surgiu
Mas não foi o tal martelo
Que esta poesia abriu
Foi uma brisa que soprou
Para algo lhe dizer
E assim lhe sussurrou
Sempre estarei com você