Entre os resplendores perpétuos
Ela foi sempre a última, com sua impecável ética - na ordem alfabética. Zulma, educadora, preceptora, assistente social e espiritual, nove décadas de laboriosa e vitoriosa existência, converteu-se em primeira, conselheira, numa imperiosa referência. E, logo ali, às portas do Bom Jesus, bem no coração da sua rua da Paciência.
O testemunho dos que a conheceram e fruíram de seus ensinamentos, de suas muitas virtudes são suficientemente eloquentes. Acima da tristeza de ver partir um baluarte de nossa sociedade, falam da satisfação de em algum momento de suas vidas terem interagido com essa intrépida e perseverante filha de seu Neném e de dona Sílvia, um marco sólido e resplandecente na tricentenária histório de nossa Velha Serrana.
Em sua obra magistral sobre uma fímbria deste nosso complexo e apaixonante cosmo, o escritor conterrâneo Bartolomeu Campos Queiroz, em Por parte de pai, concentra-se nas acontecências da ladeira da Paciência, nos anos cinquenta e sessenta, ainda que en passant, cita Zulma entre os moradores dessa encantadora via.
Despojada de vaidades frívolas, Zulma investiu no trabalho, na fé, na caridade, e na promoção do bem comum, ancorada em princípios reiligiosos, em seu permanente vigiar, orar, e obrar. Não menor devoção, teve pela descendência da extensa família Lopes Cançado, sobrinhos, sobrinhos netos, sempre incentivando e acompanhando sua inserção no mundo, nos ofícios, nas artes, na política, com genuíno orgulho.
E de sua horta, tão pródiga, quem vai cuidar agora, enquanto a irriquieta Zulma "lassù in cielo", sobre nós vela, entre os resplendores perpétuos?