MAMÃE
Vejo-te ainda com os meus olhos de criança,
Sentada na velha soleira da porta da varanda,
No teu olhar de paz, a luz da minha esperança,
No teu cantar, a doce melodia de uma ciranda.
A harmonia existia e a felicidade era tão divina,
E eu gostava tanto de estar contigo, de te olhar,
Eras ainda uma jovem mãe, com ares de menina,
Santa da minha doce infância dentro do nosso lar.
E no crepúsculo das velhas tardes, ao anoitecer,
Teu olhar sereno, fixo no céu, rezavas uma prece,
Aquelas tuas mãos postas fazia a paz acontecer,
Naquela hora amena que agente jamais esquece.
Vejo-te naqueles dias, nos afazeres da nossa casa,
Fazendo comida, estendendo a tolha sobre a mesa,
Na janela o velho ferro de engomar cheio de brasa,
E quando anoitecia, trazias, uma lamparina acesa.
Noite alta, o vento forte assoviando sobre o telhado,
Balançando folhas e galhos das árvores, com acoites,
Más tu me agasalhavas nos teus braços com cuidado,
Protegendo-me das intempéries frias daquelas noites.
E eu tão feliz adormecia no teu colo, nos teus braços,
Sentindo o afago caloroso das tuas mãos, teu carinho,
Te revia em sonhos, guiando sempre os meus passos
E em cada amanhecer, tu eras a luz do meu caminho.