FERNANDO LOBO - TRIBUTO
TRIBUTO A FERNANDO LÔBO
Um artista, lojista, politizado e ético.
Somos o que repetidamente fazemos: a excelência não é um jeito, é um hábito...
Tomo emprestado, pois, esta frase de Aristoteles, para discorrer sobre Fernando Rocha Lobo, modelo de excelência, possuidor de uma sensibilidade inigualável, dono de uma história digna de ser contada pela grandeza dos seus atos. Falar de um irmão, sobretudo de um bom irmão, significa se desnudar e ir ao fundo da alma pra buscar a palavra certa.
Decerto não é uma tarefa fácil, alcançar a intensidade deste sentimento.
O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis. Pega carona no dizer do poeta, para melhor retratar a trajetória de Fernando Lobo, desde as barrancas do "Riacho Salgado", nas entranhas do sertão de Santo Estevão, até as águas límpidas de Copacabana...
Não foi nada fácil, assim creio, para um garoto com pouco mais de dez anos, deixar seus pais, seus irmãos, seus amigos, sua cidade e seus costumes, para morar em outra cidade, com outra família, com novos costumes e novos hábitos, correndo inclusive o risco de ser acometido pelo TAS - "Transtorno de Ansiedade de Separação"; uma ansiedade que atinge um grau patológico, que foge da normalidade e pode trazer prejuízos à criança por muito tempo.
Estudos comprovam que é na relação familiar que os valores se constroem e molda-se a personalidade da criança. Para que este processo ocorra de forma saudável, a presença física e emocional dos pais é essencial.
No primeiro momento, pode ser divertido para uma criança do interior baiano, alardear para os seus amiguinhos que está indo para o Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa. Entretanto, não lhes disseram quanto tempo ficaria distante dos seus, tampouco lhes perguntaram se queria ficar e se estava feliz. Decerto as intenções dos adultos foram as melhores; mas, muitas vezes, o melhor para uma criança pode ser o oposto...
Com o tempo, o seu coração é invadido pela saudade que vem da lembrança, da distância e da ausência... Enfrenta a diversidade aos 10 anos de idade e leva dez anos para rever seus pais e seus irmãos. Inclusive, conhecer os cinco irmãos que nasceram quando da sua ausência. Sabe Deus como administrou essa saudade. Saudade do pai, da mãe, dos irmãos, dos amigos, da sua cidade e da sua casa de verdade.
Há mais de meio século, Fernando desembarca no Estado da Guanabara, estribado nos valores éticos dos "Lobos", exemplo de honradez, que lhe fez conhecer, ainda cedo, princípios como solidariedade e honestidade. Trouxe em sua bagagem, escondido talvez até dele mesmo, habilidades para artes plásticas. Existia "arte" em sua genética; existia um artista que precisava pintar, e, seguiu pintando em abstrato coisas concretas, no seu tempo, no seu compasso, rabiscando sonhos e dando voz às emoções. Retratou em suas telas a desigualdade, o desamor, a separação, a saudade, o sorriso estrangulado... Pintou de tudo, sem importar-se em ser ou não compreendido, pois lhe era reservado o sacrossanto direito da criação, da aceitação, da contestação e da transformação do tédio.
Já tinha consciência de Artista !.
Diz o poeta, que os "pintores" utilizam de todas as liberdades que podem, embora com três disciplinas: as disciplinas das mãos, da cabeça e do coração. Fernando, com disciplina e determinação, sem pátria e sem medida, sonhador que sonha sonhos reais, seguiu desenhando e desvendando o mistério da sua criação sujeita a censura, mas nunca ao silêncio, pois suas telas são pinturas que falam. - Você pode até não entender, mas elas dizem o que precisava ser dito !..
Assiste razão ao Mestre Picasso quando disse: "Toda criança é artista. O problema é como permanecer artista depois de crescer". - Nesse país "merdado" de valores comprados sem critérios, foi impossível para o artista Fernando viver da arte. Teve que buscar um trabalho para se manter e pagar as suas contas. E, nesse conflito entre o trabalho e a arte, o trabalho venceu. Deixou de fazer o que mais gostava: Pintar e retratar a vida. - Deixa então as telas e os pincéis para se debruçar nas pranchetas e desenhar projetos que não eram os seus...
Esculpido na trajetória da Fábrica Corcovado de Tecidos e Lojas de Móveis e Decorações, seguramente, lhe capacitaram para atuar como um "fazedor" de fantasias domésticas, sob medidas, para o deleite e agrado dos seus clientes. Nasce então o Lojista.
Um Lojista multifacetado, que arquiteta, projeta, decora e vende a sua criação aos que sabem apreciar a beleza da arte. Amante do saber, entende que o conhecimento é como uma janela que se abre para o mundo; a busca do conhecimento tem sido uma constante na sua trajetória. A todo dia algo novo é acrescentado em sua vida; seja pessoal ou profissional, buscando inovações para atender às exigências do mercado.
Vale lembrar, entretanto, que não é tão somente um notável talento o exigível para assegurar o êxito como ser humano, mas sim o seu firme propósito humanitário. Fernando é um ilustre anônimo, mas um notável ser humano, magnânimo e solidário. O que transforma um homem em notável é a sua capacidade de ser gente.
A generosidade de Fernando é conhecido e reconhecido por todos os seus. É um sacerdote da bondade, e tudo que faz coloca sua alegria herdada de Dona Alaide. Aceitou a Cidade do Rio de Janeiro para si, onde pretende gastar a sua existência, onde tudo fará sentido, onde seu esforço guardará uma finalidade, onde o seu trabalho será a fonte do prazer, onde haverá de consumir energia e tempo existencial para fazer algo que importe para ele, para Fátima e Fernanda, sua única filha, que dará continuidade à sua descendência. Como positivo, ele conseguiu o que muitos sonharam e não conseguiram: ter uma família unida, alegre, consciente, solidária e acolhedora, que lhe impulsiona para frente, na esperança de um mundo melhor.
Por tudo exposto, então, proponha está justa homenagem a esse irmão excepcional, pela grandeza das suas qualidades. - Por mais verdadeiras e bonitas que possam ser as minhas palavras, nunca serão suficientes para retratar com fidelidade, o altruísmo desse irmão, baiano de nascimento e carioca por adoção, possuidor de uma história farta de excelência.
Por derradeiro, rogo ao Cristo Senhor que cuide de prolongar os seus dias aqui na terra, com saúde e paz, para continuar nos obsequiado com a sua excelsa amizade.
Com meu apreço. - hoje de março de 2016.
Manoel Lobo, mais oito irmãos