SOBRE O DESENCARNE DE UMBERTO ECO

Prólogo

“Justificar tragédias como "vontade divina" tira da gente a responsabilidade por nossas escolhas.” – (UMBERTO ECO).

Intelectuais, professores, leitores, estudantes, autodidatas (sou um deles), escritores, filósofos, semiólogos, linguistas e bibliófilos estão de luto porque UMBERTO ECO cumpriu mais uma etapa neste mundo de expiações.

Em uma entrevista à revista ÉPOCA UMBERTO ECO disse (deu sua opinião), sobre a internet:

“A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. ”. – (ENTREVISTA - 30/12/2011 16h48min - Atualizado em 06/01/2012 13h15).

EIS MINHA RESPEITOSA E PARCIAL DISCORDANCIA

O mau uso da internet não nos livra da responsabilidade por nossas escolhas, isto é, pelo livre-arbítrio ou liberdade de atuação segundo próprio discernimento. O problema não é a internet, mas sim o uso que fazem dela! A internet é uma ferramenta muito útil quando utilizada criteriosamente.

Sim. A internet é um mundo de fantasias, descontração, sonhos e maquinações..., mas, esse mundo está disponível para quem quer embarcar nessa canoa das ilusões. Não nos esqueçamos jamais que na internet também existe o lado responsável, prático, onde pessoas, à boa-fé, aproveitam esta ferramenta de forma proativa, buscando o seu melhor conteúdo, formando e fornecendo boas opiniões, aprendendo e ensinando, orientando, ajudando pessoas com esclarecimentos profícuos.

Hoje em dia a internet é imprescindível para estudar, trabalhar, pesquisar, divertir. Mas, igual a tudo na vida, a internet tem seu lado negativo. É nesse momento que se transforma em um “mundo selvagem e perigoso” como entendia – disso não há como discordar – o recém-desencarnado UMBERTO ECO.

UM POUCO DE HISTÓRIA

O escritor UMBERTO ECO é muito mais conhecido por seu romance "O nome da rosa" publicado em 1980. O livro combina semiótica, ficção, análise bíblica, estudos medievais e teoria literária. Conta a história do frei Guilherme de Baskerville, enviado para investigar o caso de um mosteiro franciscano italiano, cujos monges são suspeitos de cometer heresias. A história, que se passa em 1327, envolve mortes misteriosas, crueldade e sedução erótica.

É claro que há outras obras de peso no currículo do renomado escritor eclético como 'O Pêndulo de Foucault', 'O Cemitério de Praga' e 'Número Zero'.

UM PRESENTE DE UM AMIGO MEMORÁVEL

Em 1977, no 14º BI Mtz, o notável capitão NILTON GOMES ROLIM foi um dos instrutores de minha turma durante o Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos (CAS) naquela aguerrida e briosa Organização Militar.

Nossa amizade e empatia foi recíproca e espontânea, sendo consolidada em Fernando de Noronha quando o amigo ROLIM, depois de promovido ao posto de major, foi designado para ser o subcomandante da Guarnição Militar de FN. Na época eu era 2º sargento e, resguardadas as proporções funcionais e a hierarquia, consolidamos a amizade ao servimos juntos naquela aprazível plaga.

“O nome da rosa” é um dos meus livros prediletos pelo fato de ser envolvente no que se propõe. Pela minha formação militar e jurídica aprecio sobremaneira casos investigativos que envolvem não apenas crimes misteriosos, mas, também, sedução erótica e suposta heresia no meio religioso.

O supracitado livro foi publicado no ano de 1980, contudo, só em dezembro de 1984 ganhei-o do eminente amigo (à época NILTON GOMES ROLIM - Tenente-Coronel) com a seguinte dedicatória:

“Para o amigo Wilson com meu forte abraço e a certeza de uma amizade sincera que transcende ao tempo e ao espaço. Sinceramente Rolim TC – Dez 1984” – (SIC).

SEM EMPÁFIA E TAMPOUCO QUERENDO DEMONSTRAR ERUDIÇÃO

Há algum tempo vi o filme “O nome da rosa” e, agora com o desencarne de UMBERTO ECO fui reestimulado. Vou reler o livro que me faz lembrar Arthur Conan Doyle, Agatha Mary Clarissa Christie, Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski, Edgar Allan Poe, Stephen Edwin King, Juan José Benítez López, conhecido por J. J. Benítez, Thomas Leo "Tom" Clancy, Jr., Sidney Schechtel, mais conhecido como Sidney Sheldon e outros monstros sagrados da literatura universal.

Dentre os brasileiros aprecio sobremaneira: Lúcia Machado de Almeida, Érico Veríssimo, João Ubaldo Ribeiro, Jô Soares, Marcos Rey, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos, Ariano Suassuna, Nelson Rodrigues, Machado de Assis, Gonçalves Dias, Carlos Drummond de Andrade, Bernardo Guimarães, José de Alencar, Castro Alves e outros iluminados escritores não menos conspícuos e especiais.

De Portugal leio em demasia Fernando António Nogueira Pessoa, mais conhecido por Fernando Pessoa e José de Sousa Saramago.

CONCLUSÃO

Recomendo com louvor a leitura de “O nome da rosa”. Trata-se de um livro que revoluciona o mito do 'best-seller' fazendo-nos viajar pelos umbrais de um vetusto e tenebroso monastério medieval, parcamente iluminado por tochas que emitem luzes bruxuleantes criando fantasmas disformes em suas paredes escuras. “O nome da rosa” é um romance de entretenimento, mas com muitas “piscadas” de olhos abertos para os leitores mais sagazes e eruditos.

É quase certo que o livro póstumo de UMBERTO ECO será uma coletânea de sua coluna em jornal. Os textos têm como ponto em comum a noção de uma sociedade líquida, conceito do filósofo polonês Zigmunt Bauman.

Portanto, espero não demorar tanto, por conta dos trabalhos de tradução para o idioma português, a chegada às livrarias desse já festejado livro póstumo. Fiquemos todos atentos para essa preciosidade digna de anseios pelos seus inúmeros e felizardos leitores e colecionadores (não sou exceção nessa empreitada).