ALMA QUERIDA

É uma homenagem que minha mulher Sonia faz em lembranças de sua irmã querida.

ALMA QUERIDA

Era dia 27 de novembro, o ano 1993, era um dia importante, pois a minha querida irmã, ADALGISA, fazia aniversário e completava 54 anos. Infelizmente, encontrava-se doente e muito frágil, pois mal conseguia ficar em pé. Acompanhada por duas enfermeiras. Eu sempre com a sua filha Valéria, permanecia junto dela. Diàriamente, eu saía de minha casa, após deixar os meus dois filhos no colégio e partia para a sua casa. Sempre a encontrava de banho tomado, sentadinha no sofá, meio tristonha, mas, quando eu chegava, ela me recebia com um sorriso, fazia questão de se levantar, dava-me um abraço e dizia: - Oi mana!, graças a Deus que você chegou, pensei que não vinhas mais. Mas, ela sabia que eu estaria presente sempre, pois desde crianças que éramos assim, pois sentíamos a presença uma da outra. Crescemos, ela casou-se, mudou-se para a Baixada Fluminense, e eu, continuei a trabalhar e morar em São Cristóvão, onde morávamos com nosso meio-irmão. Contudo, era certo todo os fins de semana estarmos juntas. Até que ela me pediu para ir morar com ela. Ela teve 3 filhos, primeiro a Valéria, depois Márcia e por último, o Alexandre. Realmente éramos muito ligadas, pois bastava eu sentir que ela precisava de mim, que lá eu estaria, e vice-versa.

Passado o tempo, tive primeiro o meu filho Rodrigo, foi quando eu me mudei da sua casa. Ela tinha um enorme carinho por ele. Todos os dias, às 6 horas da manhã, quando me levantava para arrumar o meu filho para a escola, sentia a presença de minha irmã em minha porta. Sempre eu sentia a sua presença chegando, antes dela bater na porta e me chamar. Eu dizia pro meu filho: - Sua tia está chegando. E ele me rebatia: - pare com isso, mãe. Como é que a senhora sabe disto?. Eu o respondia: - Espere e verá, meu filho! E, assim, em poucos minutos, escutávamos o portão bater, era ela chegando de bicicleta e logo me gritando: - Sonia, olha eu aí! Meu filho estupefato, me dizia: Não consigo entender isso de voces duas, parece que voces são uma só. E ficava todo feliz.

Mas, eu sempre lhe falava que não éramos uma só, pois a minha irmã era alegre, meiga, fazia amizade com muita facilidade e sempre procurava ajudar aos que necessitassem de ajuda, apesar de eu também gostar de ajudar.

Mas, a doença foi impiedosa para com ela, que mesmo assim, não era de se lamentar, com todo sofrimento tinha um sorriso e fazia questão de elogiar as suas visitas, procurando não chorar e nem reclamar das dores que sentia. Sempre fazia as suas orações e foi nessa época que Roberto Carlos lançou uma música, chamada NOSSA SENHORA ME DÊ A MÃO. Aí, ela com um terço nas mãos, me disse: - Essa música parece que foi feita para mim. Já haviam-se passados 6 meses que descobriram a sua doença, mas, nesse dia do seu aniversário, ela estava piorando, embora tranquila aparentemente, ela mandou alguém em minha casa às 5 horas da manhã , me chamar. Ela queria me ver, mas, eu já me encontrava acordada colocando roupas no varal e pressentí o seu chamado. Antes, ao pressentir algo extranho, achei que eu houvesse perdido meus braços e minha perna esquerda . Então, ao receber o chamado, corri para lá, encontrei-a no portão em pé, à minha espera. Abraçamo-nos e resolvi ficar com ela o dia inteiro. Fiz o almoço em sua casa e depois ficamos na sala, foi onde ela me pediu perdão chorando muito. Mas, eu lhe falei que não tinha nada que me perdoar. Perguntei-lhe: - O que está acontecendo, minha irmã? Ela apenas me olhou e começamos a chorar abraçadas. Foi essa a única vêz que a vi tão frágil. Bem, à noite, resolveram fazer um bolo para ela, pois algumas pessoas quiseram enfeitar a sala com bolas. Eu havia ido em casa para ver os meus filhos e tomar um banho e voltar rápido para ficar com ela, mas, eu não sabia que estava acontecendo, pois ela não queria nada daquilo. Ao chegar, havia muitas pessoas ao seu redor, enquanto ela sentadinha na copa, olhando a tudo e a todos. Nosso irmão, Paulo, estava lá também. Ela simplesmente olhou para mim com uma expressão de que nada daquilo era para ela. Nos entreolhamos por algum tempo e senti que a sua vontade era a de ficar somente com os seus filhos, seus irmão e seu marido, só os seus familiares e nada de festa. Aquela gente toda estava sendo um suplício para ela. Vendo isto, consegui tirá-la daquele meio e levei-a para o seu quarto, pois vi que ela não estava sentindo-se bem. Pedi desculpas a todos os presentes e que se retirassem. Todos entenderam e foram embora.

Em 17 de janeiro,dia do meu aniversário e de sua filha Márcia, ela não esquecida da data, pediu-me que fosse vê-la para me dar um abraço. Querendo me agradar, queria que eu ficasse com ela, mas eu lhe disse que ficaria, mas não queria que se fizessem nada para mim. Dois dias depois, no dia 19de janeiro, ela piorou muito e pediu-me que dormisse perto dela. Nessa noite, adormeci. Sonhei com ela passeando em um campo muito florido e que ela estava me dizendo no sonho que havia naquele lugar uma flor muito bonita, mas que somente ela poderia ver. Surgiu um homem com uma túnica branca e com um capuz que não dava para ver-lhe o rosto. Ele a chamou e a conduziu junto com ele. Ela acenando para mim, pediu-me que voltasse. Ao acordar, sua filha Valéria me contou de um sonho que tivera igual. Foi nesse mesmo dia que ela piorado, foi levada para o Hospital. Horas depois, a trouxeram de volta, pois segundo os médicos que a assistiram, nada mais poderia ser feito. A levamos para o seu quarto e ela pediu que todos nós, seu marido, seus filhos e eu, fechassem a porta e despediu-se, segurando a minha mão, em seguida cerrando os seu olhos. E, assim, no dia 20 de janeiro a sepultamos no Jardim da Saudade, em Edson Passos, Mesquita.

Sofrendo muito com a sua perda, fui durante doze anos até à sua sepultura e conversava com ela. Tinha a certeza de que ela ainda estaria ali intacta. Todos achavam que eu estava ficando louca . Quando do falecimento de sua cunhada, Antonia (Eu quem cuidara dela até o seu último suspiro), foi feito o seu sepultamento no mesmo lugar de minha irmã. Ao abrirem a cova e retiraram o caixão de minha querida irmã, todos ficaram espantados ao ver que realmente, apesar de doze anos, minha irmã estava com seu corpo perfeito. Seu marido chegou até passar mal na hora em que viu. Foi aí que todos me deram razão e viram que eu não estava ficando louca quando sabia que ela estava perfeita e que até parecia uma santa. Depois disso, nunca mais eu chorei e fiquei em paz ao vê-la pela última vez. Tenho a certeza de que até os dias de hoje, ela continua perfeita.

À MINHA ALMA QUERIDA!

SONIA RODRIGUES VIDAL

pauloromano
Enviado por pauloromano em 05/07/2007
Código do texto: T553742
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