ZÉ DE HERMES (homenagem póstuma)
Zé de Hermes era um piadista
Um contador de histórias
Um bailarino pé de valsa
Dentre os foliões, o mais animado
Era alegria em pessoa
Um humorista nato
Um rei sem trono ou coroa
Zé de Hermes era um angicalense
mais barreirense que já se viu
Zé era a própria cidade
Em cores, em luz,em som, em versos
Uma poesia viva e ambulante
Zé costumava dizer
Que era igual a pardal,
Literalmente urbano
Zé era um boêmio, um galanteador
Pelas mulheres tinha o maior respeito
Protegia e tratava como quem cultiva
Rosas e flores
Zé era aquele cara impar,
Imprescindível, servidor
Zé era simplesmente Zé,
Sem tirar e nem por.
De repente, não mais que de repente
Zé nos deixa
Sem eira e nem beira
À margem da alegria
À margem da poesia
À margem da cultura
À margem de tudo.
E agora José?
Que estás inerte e frio
Que faremos com essa dor
Que nos atravessa o peito
Feito lâmina afiada?
E agora José?
Que faremos com a tristeza
E a saudade
Quando fevereiro chegar?
Que faremos com a solidão
Nos devorando aos poucos
No limiar das horas
Na mesa de um bar?
E agora José?
Nos templos sagrados
Seus irmãos reunidos
Desbastando a pedra bruta
Que farão José, com sua presença ausente?
E agora José
Que estás inerte e mudo?
Porém, entretanto, contudo
Serás nosso porta voz imortal
Na academia dos pobres mortais.
E nessa eterna incerteza
Do começo do fim
E o fim do começo
O que nos conforta e consola, José
Neste momento de dor
É a mais pura certeza
De que um dia, meu amigo
A qualquer hora
Em algum lugar
Iremos nos encontrar.
Carlos Abdon.