Poema a um Homem Sozinho - Tributo a António Gedeão

Só,

Irremediavelmente só,

Como um astro perdido que arrefece.

Todos passam por ti

E ninguém te conhece.

Os que passam,

Os que te olham de lado,

Os que ainda falam:

Sai daqui…

Essa solidão desnuda,

Quer se veja, ou se tape,

Quer se peça, se despeça,

Ninguém para, a conversar…

Quem te sente, homem doente?

Ninguém nem mesmo eu,

Quem te escuta, homem que fala?

Ninguém nem mesmo eu,

Quem te ajuda, quem te mente?

Ninguém nem mesmo eu…

Dão-se esmolas, são tesouros,

Dão-se sopas e cobertores,

Dão-se roupas, e comprimidos

Mas ninguém te tira as dores,

Dão-se gritos, envergonhados,

Sem abrigo, desabrigados,

Dá-se tudo e nada tens!

Mas esse teu íntimo secreto

Que no silêncio desesperas,

Sentado enquanto esperas

Num esgotamento completo,

Este ser-se sem disfarce,

Um homem sozinho desenlace,

É teu, só teu de mais ninguém.

Alberto Cuddel

Não sendo este um dos poemas mais conhecidos do autor, foi o escolhido por mim a reescrever no hoje, não sendo eu sozinho, reescrevo-o contigo… reescrevendo Poemas de um Homem só de António Gedeão

Alberto Cuddel
Enviado por Alberto Cuddel em 21/01/2016
Reeditado em 01/03/2016
Código do texto: T5518268
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