Poema a um Homem Sozinho - Tributo a António Gedeão
Só,
Irremediavelmente só,
Como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por ti
E ninguém te conhece.
Os que passam,
Os que te olham de lado,
Os que ainda falam:
Sai daqui…
Essa solidão desnuda,
Quer se veja, ou se tape,
Quer se peça, se despeça,
Ninguém para, a conversar…
Quem te sente, homem doente?
Ninguém nem mesmo eu,
Quem te escuta, homem que fala?
Ninguém nem mesmo eu,
Quem te ajuda, quem te mente?
Ninguém nem mesmo eu…
Dão-se esmolas, são tesouros,
Dão-se sopas e cobertores,
Dão-se roupas, e comprimidos
Mas ninguém te tira as dores,
Dão-se gritos, envergonhados,
Sem abrigo, desabrigados,
Dá-se tudo e nada tens!
Mas esse teu íntimo secreto
Que no silêncio desesperas,
Sentado enquanto esperas
Num esgotamento completo,
Este ser-se sem disfarce,
Um homem sozinho desenlace,
É teu, só teu de mais ninguém.
Alberto Cuddel
Não sendo este um dos poemas mais conhecidos do autor, foi o escolhido por mim a reescrever no hoje, não sendo eu sozinho, reescrevo-o contigo… reescrevendo Poemas de um Homem só de António Gedeão