MARIA PIEDADE
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO
Prefácio
Dona Maria Piedade é uma senhora que tive a honra de conhecer no início da década de 80, em função de um passeio dominical a uma cachoeira, em uma cidade da região metropolitana de Belo Horizonte – MG.
Esse passeio rendeu-me o namoro com uma de suas sobrinhas.
Mesmo após o término desse namoro, a D. Maria Piedade manteve a sua amizade para comigo e, embora transcorridas mais de 3,5 décadas, essa amizade prevalece entre nós.
Dona Piedade foi casada com o por mim conhecido por Sr. Oliveira, com quem conviveu até que a morte o levou e juntos tiveram duas filhas. Essas duas filhas lhe deram filhos e os seus filhos, netos e até bisnetos.
Como prometera a uma de suas irmãs, no seu leito de morte, criou as três sobrinhas e um sobrinho órfãos.
Contou-me a D. Maria Piedade que a sua família era composta de pai – o Sr. Juvêncio, a mãe – Srª. Maria Augusta e 6 (seis) filhas, todas Marias:
1. Maria Erosita;
2. Maria Dometildes;
3. Maria Antônia;
4. Maria José;
5. Maria Piedade e
6. Maria Eva.
O senhor Juvêncio ficou viúvo muito cedo pois sua esposa Maria Augusta, morrera prematuramente, aos 25 anos de idade. Pouco tempo depois de dar à luz, Maria Eva.
Consequentemente, as seis irmãs ficaram órfãs de mãe ainda muito novas.
O senhor Juvêncio teve que conciliar suas exaustivas atividades de garimpagem no leito do Rio Abaeté, de agricultor, de artesão etc., com a criação das 6 (seis) filhas.
Mas nesse quesito ele se saíra muito bem, pois lhes davam muito carinho e atenção.
Não bastasse já terem perdido a mãe o destino levou-lhes também o pai, aos 35 anos de idade.
Tiveram então que ser encaminhadas para um penoso processo de adoção. Processo esse dificultado por serem 6 (seis) crianças.
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO- Episódio 1
Mata dos Andrade
Contou-me a D. Piedade que sua família morava em um lugarejo denominado Mata dos Andrade, pertencente ao município de Tiros – MG, às margens do rio Abaeté.
Mata dos Andrade era, nas décadas de 20 e 30, um lugarejo muito precário, de poucos habitantes, no qual a maioria das moradias sequer tinha privada (casinha). Nem mesmo pinico (urinol). Eles tinham que atender às suas necessidades fisiológicas no meio do mato.
O banho diário acontecia no Rio Abaeté ou por meio do chamado “banho de caneca”.
Apesar de o pai ter várias habilidades, como por exemplo: garimpeiro, agricultor, artesão etc., os seus ganhos não eram muitos e grandes eram as dificuldades financeiras porque passavam.
Contudo, o Sr. Juvêncio as criavam todas com muita dignidade, apesar da precariedade em que viviam.
 
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO- Episódio 2
O pinico
Em uma de nossas confabulações a D. Piedade me relatou uma estória curiosa.
Disse-me que juntamente com as outras irmãs, costumava ir até o rio Abaeté para brincar e se banhar em suas águas.
Certo dia, estando a brincar nas águas do Abaeté com as suas irmãs, viu-se aproximar uma mocinha com o que, para ela, parecia uma tigela muito chique e preciosa.
A mocinha lavou a tal tigela e, como a menina Piedade olhava encantada para tão bela peça esmaltada, verteu na peça um pouco d`água e ofereceu a ela.
Sentindo-se prestigiada em poder beber água em um vasilhame tão encantador, aceitou e se deliciou.
Após a menina Piedade ter ingerido o quanto quis, a mocinha perguntou a ela:
̶ ̶ ̶ sabe o que é isso?
E com ar de curiosidade, ela respondeu: ̶̶̶ ̶ ̶ não sei não.
̶̶̶ ̶ ̶ isso é um pinico!
Ouvindo isso a outras crianças que presenciaram o fato caíram na gargalhada e a menina Piedade jurou nunca mais conversar com aquela mocinha malvada.
Mas, como é próprio das crianças, a raiva ficou no passado e no dia seguinte tudo voltou ao normal.
 
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO- Episódio 3
O bicho veio carregar as batatas
D. Piedade relatou-me que lá pelos rincões da Mata dos Andrade, entre as décadas de 20 e 30, praticamente não iam automóveis, caminhões, ou qualquer veículo motorizado.
Lembrou-se de um ano em que a produção de batata inglesa foi muita e os produtos estavam graúdos e vistosos.
Seu pai, ao chegar em casa anunciou: ̶̶ ̶ ̶ O bicho chegou para carregar as batata.
Então ela e uma de suas irmãs saíram correndo para o descampado e, quando alcançaram a entrada da roça, depararam-se com uma coisa muito estranha, tão grande e monstruosa, que lhes causou pânico. E ambas voltaram aterrorizadas para casa, gritando que tinham visto um monstro lá fora e se esconderam debaixo da cama.
O horripilante “monstro” era o caminhão que fora buscar a produção de batatas. Mas, como elas nunca tinham visto antes nada igual, sobretudo daquele porte, ficaram apavoradas, o que lhes causou tremendo pânico.
 
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO- Episódio 4
A Praça e as lamparinas
Neste quarto episódio abordando vivências de uma criança pobre, lá pelos idos de 1920/1930, no interior de Minas Gerais, na cidade de Tiros, mais precisamente no subúrbio denominado Mata dos Andrade, vou relatar mais uma das várias estórias a mim contada por D. Piedade:
Naquela ocasião, Mata dos Andrade era um lugarejo muito arcaico. Não tinha água, esgoto, nem qualquer saneamento básico, muito menos energia elétrica e a iluminação das casas era feita por intermédio de candeias ou lamparinas.
Crianças lá praticamente só havia elas seis (as seis irmãs). Eram, como se diz no linguajar popular, “bichos do mato”. Ou seja, não tinham contato com pessoas, a não ser as poucas existentes no próprio lugarejo.
A D. Piedade não soube me informar por qual motivo, mas o fato é que caminharam por horas, ela, suas irmãs e seu pai, da localidade de Mata dos Andrade até a cidade de Tiros – MG e quando chegaram lá já era noite.
Logo ao chegar ficaram encantadas com tanta luz.
A menina Piedade, de mãos dadas com o seu pai, chamou-lhe a atenção para lhe perguntar que foi que colocou aquelas luzes lá no alto daqueles paus. Não sabia nem mesmo que se tratavam de postes.
Seu pai então respondeu: ̶ ̶ ̶ Ô fia, cê tá parecenu bichu du matu. Aquilu ali é a tar da luz elética.
 
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO- Episódio 5
Ai eu entrei na roda
Certo dia a menina Piedade, seu pai e suas irmãs caminharam a beira rio por várias horas, da Mata dos Andrade até a cidade de Tiros – MG.
Ao chegar próximo à pracinha da cidade, ficou encantada em ver tantas crianças brincando de roda.
A menina Piedade e suas irmãs não tinham contato com outras crianças, muito menos sabiam o que é brincar de roda.
Aquele bando de crianças, suas vestes, suas belezas, a alegria, as cantigas, tudo era deslumbrante para aquelas meninas tão alienadas de tudo.
A menina Piedade ficou ali, distante, boquiaberta e de braços cruzados, querendo estar feliz no meio daquela criançada.
Enquanto “viajava” em deslumbramento, uma criancinha a pegou pela mão, levou-a até a roda e a inseriu no contexto da brincadeira.
Foi um momento tão marcante em sua vida que ela não se lembra de nenhum daqueles rostinhos das crianças com as quais brincou.
Quanto à cantiga, vem-lhe vagamente à lembrança que se tratava da antiga cantiga de roda: “Apareceu a Margarida”.
Os seus olhos se embaçaram de tanta emoção.
Ao retornar à sua casa foi tamanho o deslumbre e emoção, que não conseguiu dormir naquela noite.
Até hoje ela se emociona ao relembrar aquele dia.
 
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO– Episódio 6
O Cavaleiro Celestial
D. Piedade conta que, certa feita, estava ali, pensativa, tentando se lembrar da cantiga que as criancinhas entoavam naquela tarde na praça da cidade de Tiros.
Enquanto revivia mentalmente aquela grata e inesquecível experiência, despetalava uma margarida, pétala por pétala, dizendo: bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, mal-me-quer,...
Naquele momento, do nada, apareceu um cavaleiro em um majestoso cavalo branco dizendo: “Essa flor tem um grande significado para você!”
Tendo dito isso, o cavaleiro deu meia volta com o seu cavalo e subiu aos céus, como que tivesse uma estrada sobre suas patas.
D. Piedade não teve dúvida: “a cantiga de roda que as meninas cantavam era: “Apareceu a Margarida”.
 
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO– Episódio 7
A choupana
Certo dia o Sr. Juvêncio chamou suas filhas e saiu andando com elas ao longo das margens do Abaeté.
Após horas de caminhada chegaram a um rancho, o qual ela descreve como instalado em um lugar ermo, no meio do mato. Suas paredes eram compostas de peças de madeira forradas com palha e barro, para evitar a invasão de animais e para proteger das intempéries.
Chegaram à choupana e se instalaram.
Tendo acomodado suas filhas, o Sr. Juvêncio anunciou que tinha que sair e que ficassem por ali.
O dia passou e nada de o senhor Juvêncio retornar.
Naqueles rincões o fogo era obtido batendo incessantemente uma pedra à outra, próximas a palhas ou outro material qualquer de fácil combustão.
Como estava para escurecer, sua irmã mais velha, iniciou o penoso processo de obtenção do fogo, para iluminar a trilha, no momento em que alguma delas resolvesse fazer xixi.
 
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO– Episódio 8
Fogo fora do controle
Após aceso o fogo, como havia muito material combustível por perto, o fogo logo se alastrou e as meninas entraram em pânico.
Não havia quase nada com o quê debelar o fogo e, a única saída que encontraram foi a de jogar água com cuias nas chamas.
Corre daqui, corre dali, joga água e o fogo só avançava.
As irmãs já estavam perdendo as esperanças, quando, não se sabe de onde, surgiu um cavaleiro que passou a combater o fogo com galhos.
Após muito trabalho e apreensão, as chamas foram debeladas.
O cavaleiro então disse para as meninas: ̶ ̶ ̶̶̶ não convém vocês ficarem aqui sozinhas, ainda mais que hoje é domingo. Domingo é dia de ação de graças e há muitas pessoas passando e alguém pode fazer mal a vocês. Acho melhor vocês irem para o meu rancho, que fica lá no alto da colina e dormirem por lá.
Quando o pai de vocês voltar ele busca vocês.
Agora eu tenho que ir, porque já está escurecendo.
Amedrontadas, as crianças juntaram os seus poucos pertences e seguiram rumo ao rancho do bom cavaleiro.
 
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO- Episódio 9
Fingindo de Mortas
Então elas se deram as mãos e seguiram amedrontadas pelas trilhas.
Após aproximadamente uma hora de caminhada, já em meio à escuridão, do alto de uma colina, avistaram o rancho para onde estavam se encaminhando.
Como a conversa das seis meninas quebrava o silêncio da noite calma do sertão, vários cachorros da propriedade vieram correndo e latindo ferozmente em suas direções. Sem saída, a irmã mais velha determinou: ̶ ̶̶̶ ̶ ̶̶ vamu deitá todo mundo com a cara no chão que assim os cachorro vão achá que a gente tá morta e não vão fazê nada com nós. Cachorro não morde morto.
E assim todas procederam. Deitaram-se no chão e “enterraram”, o mais que puderam, o rosto na terra, fingindo-se de mortas.
Os cachorros vieram, fuçaram uma a uma, ficaram por ali à espreita e, como nenhuma esboçou reação, retornaram.
Após estarem seguras de que os cães já haviam ido embora, ainda trêmulas, combinaram de seguir sem dar uma palavra sequer, para não alvoroçar novamente a cachorrada.
 
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO- Episódio 10
A Mesa dos Inocentes
Como sempre, dada a tenra idade, a pobreza e a realidade de uma vida precária, de pais analfabetos, a D. Piedade não soube me dizer o que se passava, mas me contou o seguinte:
Certo dia todas as criancinhas foram convidadas a participar de uma mesa imensa e muito farta, com forro muito colorido e abastecida com muita comida e muita guloseima.
Nessa mesa não podia tomar assento crianças mais velhas, apenas crianças abaixo de 7 (sete) anos para baixo.
Na referida ocasião apenas as crianças de sete anos para baixo podiam comer carnes, pois ainda não tinham pecado.
A mesa era denominada “Mesa dos Inocentes”, ao redor da qual as crianças mais novas iam tomando assento.
As criancinhas ficavam ali deslumbradas com tanta variedade e com tanta fartura, afinal, no dia a dia delas mal tinham o que comer.
Ali elas e somente elas, podiam se esbaldar e se fartar o quanto quisessem.
Outras crianças também poderiam participar da mesa, porém, somente às com sete anos ou menos era permitido comer carne.
 
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO- Episódio 11
O Milagre
A menina Piedade e uma coleguinha resolveram ir até a mata apanhar alguns jambos.
A sua coleguinha, mais esperta, ao chegar, subiu no pé de jambo com muita destreza. Já a menina Piedade, ficou por ali mesmo, sob a árvore.
Enquanto estava por ali, entretida, a menina Piedade avistou um touro que pastava nas imediações.
Sobre um galho do jambeiro a garotinha serelepe disse: ___Oh Piedade, nós temos que ter cuidado porque aquele touro de rodeio está solto por ai e ele pode avançar em nós!
A menina Piedade então respondeu: ___Ele tá aqui, bem pertinho!
A menina então começou a gritar, pulou da árvore e saiu correndo.
O touro, furioso com a gritaria, veio galopante, arrastando o chifre na mata, em direção à menina Piedade.
Como ela não tinha para onde correr, a não ser para um brejo, não pensou duas vezes e adentrou o lamaçal até a cintura.
A outra criancinha gritava: ___Piedade, eu vou embora e vou te deixar aí!
A menina Piedade não sabia o que fazer. Não podia adentrar mais no brejo, porque não conseguiria sair e não poderia sair dali, pois o touro a atacaria.
Viu bem perto uma árvore com muitos espinhos e não podia se refugiar nela.
Sem saída, a solução foi orar. Postou as mãos espalmadas aos céus e rogou por Nossa Senhora.
No mesmo instante, segundo conta, Nossa Senhora apareceu e guiou o touro pela estrada afora.
Disse que, na inocência de uma criança sem juízo, foi até a trilha e ficou chamando o touro. Mas ele não esboçou reação, pois Nossa Senhora o conduzia pelo caminho.
 
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO- Episódio 12
A Herança
Uma vez órfãs, passado muito tempo de nefasto infortúnio, chegou a hora de receber a herança.
Não tinham conhecimento do que seria essa tal de herança, afinal, eram tão crianças e ainda por cima, alheias às burocracias da vida.
As irmãs se enfileiraram para receber cada uma o seu quinhão.
Cada uma das seis irmãs recebeu um lindo vestido de bolinhas. Nenhum igual ao outro, em termos de cores.
Um era vermelho com bolinhas brancas. Outro, amarelo com bolinhas brancas. Um outro, preto com bolinhas brancas. Outro, azul com bolinhas brancas. Outro, verde com bolinhas brancas e, por fim, um outro cinza com bolinhas brancas.
Em suas inocências, cada uma ficou mais alegre que a outra e exibiam orgulhosas a porção que lhe coube em herança.
 
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO- Episódio 13
A orfandade
Quando as seis irmãzinhas ainda eram bem crianças, ficaram órfãs de mãe, por morte decorrente de desconhecida doença e de pai, morto a tiro, quando retornava do trabalho.
A mais velha ainda não completara 12 anos de idade e todas, prematuramente, tiveram que amargar a realidade da vida sem a presença de seus pais.
As idades eram incertas, posto que à época, os pais registravam os filhos quando melhor lhes convinham. Sobretudo em se tratando de um lugarejo sem comarca e sem meios de transporte até a cidade mais próxima. No caso, a cidade de Tiros – MG.
Uma vez órfãs, as crianças foram separadas e levadas cada uma para uma casa diferente.
 
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO- Episódio 14
O penoso processo de adoção
O processo de adoção foi muito penoso para as meninas, porque ninguém conseguia adotar seis crianças de uma vez, não restando alternativa senão a de separá-las.
Aos poucos uma e outra foi sendo adotada, passando a assumir, cada qual, parte das tarefas das casas que as acolheram.
Mas uma delas ninguém queria adotar, a Maria Antônia. Esta só vivia chorando. Passava o dia todo no chororô e por isso ninguém a queria. Ninguém a suportava por perto.
Por esse motivo foi a última a conseguir um “lar”. 
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO- Episódio 15
A adoção da Maria Antônia
A situação de desprezada porque passou Maria Antônia, preocupava a todos. E, cada vez ficava mais desconsolada, encontrava ainda mais motivos para chorar.
Um certo dia, de onde menos se esperava, veio a tábua da salvação. Um grupo de protestantes, malvistos pela sociedade da época, em decorrência da prevalência da religião católica, assumiu a adoção da chorosa Maria Antônia.
Após analisarem o comportamento da infante, concluíram: “O problema dessa menina é o nome dela. Ela chora por causa do seu nome”.
Após essa constatação, resolveram por batizá-la “Samaritana”.
A verdade é que, após o batismo, não se ouviu mais o choro incessante de Maria Antônia.
 
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO- Episódio 16
A perda gradativa da visão
No ano de 2015, a D. Maria Piedade passou por um indesejável processo evolutivo de perda da visão.
Não bastasse o seu atual problema de locomoção, a perda gradativa da visão, como não poderia deixar de ser, está lhe trazendo sérias dificuldades.
Ela que sempre foi uma pessoa independente, agora necessita da atenção de familiares para ajudá-la em algumas tarefas do cotidiano.
Contudo, nada disso abala a sua fé, perseverança e alegria de viver, mantendo-se assim um exemplo a ser seguido e uma pessoa da qual sou grato a Deus pela amizade.
Recusa-se a se tratar por meio da medicina tradicional, preferindo, conforme suas próprias palavras, aproveitar a enfermidade para “olhar para dentro”. 
UMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO- Episódio 17
O adeus
Como é próprio de todo ser humano, um dia é chegada a hora da despedida. Com a D. Piedade não foi diferente: em 22 de dezembro de 2015, às 15h20, deixou-nos, partindo para junto do nosso Pai Celestial.
Deixou-nos, mas deixou em nós o sentimento de gratidão pelo privilégio do convívio com alguém tão especial. Alguém que, a despeito de todos os percalços que a vida lhe impôs, enfrentou-os a todos com altivez. Deu-nos, assim, testemunho vivo de que é possível encontrar a felicidade e a aproximação com Deus, mesmo nos momentos de sofrimento.
Tendo perdido a visão, negou-se a se submeter ao tratamento oferecido pela medicina. Preferiu aproveitar o infortúnio, para olhar para dentro. E esse olhar certamente a fortaleceu e a aproximou ainda mais do nosso Criador.
A senhora partiu, mas não sem antes nos deixar os seus mais valorosos ensinamentos.
Adeus D. Maria Piedade, descanse em paz!
 
MINHA AMIGA PIEDADE
Uma senhora tão distinta
De um sorriso sempre farto
Conheço-a há mais de trinta
No coração é que a guardo
Sempre muito agradecida
Está com Deus a cada dia
Com a Senhora Aparecida
Bom humor que contagia
Embora os anos avançados
É esteio e norte da família
Com os sentidos aguçados
A sua memória é sua guia
Nas batalhas dessa vida
Sempre foi muito guerreira
Embora a vida tão sofrida
D`alma sempre tão inteira
Sempre que estou com ela
Aguço meus cinco sentidos
A ela sempre que dou trela
Meus vazios são contidos
Tenho orgulho de um dia
Com ela ter-me encontrado
De sua amizade não sabia
Por isso sou feliz e honrado
Rafael Arcângelo Machado