Homenagem
Vinda do interior
Nunca estudou, não sabia ler, tao pouco escrever,
Com dezesseis se casou,
Sem mesmo conhecer o sentimento "amor", apenas casou.
Mas seu sonho não era apenas o de se casar
Ia além, lembrou-se de um fato,
Quando precisou ir ao cartório, não soube assinar,
Sua vergonha se estampou ao rosto,
Sentiu um desgosto
Prometeu a si mesma que para seus filhos aconteceria o oposto.
Teve quatro filhos, fez questão que estes viessem a estudar
Nunca pela mesma vergonha iriam passar.
O tempo foi correndo, era necessário tirar um novo documento,
De um RG ela iria precisar.
Quando soube que teria que assinar, pediu a seus filhos que passassem a lhe ensinar.
Era letra por letra, todas separadas,
Na linha debaixo ela as copiava,
Acordava bem cedo, em segredo, para ninguém ficar olhando
Conforme os filhos iam se levantando ela chamava para demonstrar.
Passado alguns dias queria as letras ajuntar.
A-l-d-a, ela olhava, perguntava "quando vocês escrevem parece ser maior, não quero que tenham dó, quero escrever todo"
A-l-d-a C-e-c-i-l-i-a d-a C-o-n-c-e-i-ç-ã-o S-a-n-t-o-s.
Assim foi feito
Os primeiros não saiam perfeito, mas para quem nunca entrou em uma sala de aula é como se não houvesse defeito.
Mais de trinta dias se passou.
O grande dia chegou
Era hora de assinar o seu próprio documento
Naquele momento a moça perguntou "a Senhora sabe assinar?"
Ela sem titubear disse que poderia assinar.
A caneta lhe foi entregue
Com suas mãos trémulas
Foi bem devagar, letra a letra sem errar
foram quase três minutos.
Ela conseguiu,
Um enorme sorriso em seu rosto foi o que surgiu
Aquela moça parecia entender o que ela havia passado
Pois após ela ter assinado lhe deu os parabéns.
Minha doce mãe nunca aprendeu a ler,
Outra coisa não sabia escrever
Porem seu nome já mais ela deixou de fazer.