Combate à pedofilia: Os 10 anos do filme "Hard candy"

"Se uma menina sabe imitar uma mulher isso não quer dizer que ela esteja preparada para fazer o que uma mulher faz!"
(Hayley Stark batendo a sujeira)

"Hard candy" (O doce amargo), produção americano-canadense de 2005, tornou-se cult e entrou para a história do cinema. Filme genial, consegue ser entretenimento, cinema de arte e mensagem. É o mais contundente libelo contra a pedofilia que já vi na ficção, e o discurso admirável da personagem Hayley Stark (o nome Stark significa "inflexível") abrange também de alguma forma o machismo, a violência contra mulheres, a leniência da sociedade moderna perante o crime.
Sabe-se que o produtor Brian Higgins inspirou-se em fatos reais que vinham acontecendo no Japão - meninas adolescentes armando ciladas para pedófilos. O roteiro foi entregue a Brian Nelson, a direção a David Slade e as atuações principais a Ellen Page, sensacional como Hayley Stark (a nova e diferente Chapeuzinho Vermelho) e Patrick Wilson também ótimo como Jeff Kohlver, o fotógrafo bem apessoado e bem sucedido na vida que, nas horas vagas, é um pedófilo.
Infelizmente a fita foi muito prejudicada no Brasil, pelo título equivocado que lhe foi posto: "Meninama.com". Acho que não podia ter sido pior.
A ação se passa contemporâneamente em Los Angeles, EUA, e fala de uma linda adolescente desaparecida, Dona Mauer, cuja foto está nos cartazes. Jeffrey Kohlver, de 32 anos, entra em contato pela internet com uma menina de 14, Hayley Stark, que parece muito interessada nele. Marcam encontro numa lanchonete e de lá seguem, no carro de Jeff, para a casa do fotógrafo. Ele imagina que vai se dar muito bem, mas a sedutora adolescente tem outros planos, pois sabe que Jeff é o responsável pelo sequestro e assassinato de Dona Mauer.
O confronto entre a adolescente justiceira e misteriosa de 14 anos e o pedófilo estuprador e assassino de 32 é um dos mais impressionantes que o cinema já mostrou. Note-se que a dignidade do filme é completa: nada de cenas constrangedoras, nem sangue, sexo, estupro, nudez, vocabulário chulo ou violência gráfica brutal. Hayley Stark é uma Chapeuzinho Vermelho que enfrenta o Lobo Mau ao longo de uma história tensa, que prende a atenção do começo ao fim. É um dos mais nobres filmes que eu já vi e merece ser exibido nos colégios e por toda a parte já que chama a atenção para esse assunto escabroso que hoje se espalhou pela sociedade: o monstruoso crime da pedofilia.
Ao adentrar o COVIL DO LOBO Hayley tem dois objetivos em vista: localizar as provas materiais que incriminam Jeff e jazem ocultas em seu esconderijo secreto, e punir o monstro levando-o inclusive a reconhecer quem de fato ele é (pois normalmente esse tipo de criminoso nega até diante da evidência). Para tanto ela imobiliza Jeff, e uma das muitas cenas antológicas se dá quando o criminoso, tendo conseguido se soltar, busca matá-la no banheiro com um bisturi, mas a menina, num corpo-a-corpo sensacional, simplesmente o atira na banheira e contra-ataca com um aparelho de dar choque elétrico.
Há na personagem Hayley Stark, no mistério que cerca a sua pessoa, um viés sobrenatural, como se a menina fosse na verdade um anjo que o Céu enviou para punir Jeff Kohlver. Por sinal que a canção-tema dos créditos finais a chama de anjo e a ação se passa na Cidade dos Anjos (Los Angeles City). Isso é uma possível interpretação dos símbolos da película. E poucas personagens do cinema foram tão majestosas quanto Hayley Stark quando, no duelo final que ocorre no terraço, e como que personificando a Justiça, ela declara:


"Eu sou todas as garotinhas que você olhou, tocou, machucou, violentou e matou."


imagem do filme: Ellen Page como a heroína Hayley Stark (Davi contra Golias, ou Chapeuzinho Vermelho contra o Lobo Mau)