Minha tia Wandinha.
VÃO-SE OS ANÉIS, FICAM OS DEDOS", ditado popular que não permito sua instalação em minha vida! Nunca coloquei fé no mesmo! Pra mim os anos passam, a vida a passa e tudo fica, ficam os dedos e também os anéis. É preciso que tudo permaneça, mas não precisa ser do mesmo jeito que vieram.
É lindo saber que 93 anos se passaram e lá estão os dedos e os anéis. Alguns anéis que ganhamos durante a vida não eram jóias, mas também não podem ser simplesmente jogados fora ou guardados num canto qualquer e ali esquecidos. Temos de polir, cuidadosamente, insistentemente, dias e dias até que o brilho apareça. As pedras que comporão a peça, ah, essas nos são atiradas e sábio é todo aquele que sabe pegá-las, lapidá-las e enfeitar seus anéis, transformando-os em peças preciosas e valiosas.
Anéis...às vezes a vida nos presenteia com alguns grandes demais ou pequenos demais que não cabem em nossos dedos, mas é só mesmo uma questão de tempo, pois durante o percurso, hora emagrecemos, hora engordamos e sempre, no momento certo aquele anel encaixará em nosso dedo. No instante exato ele trará brilho a nossa mão.
Durante a vida vamos recebendo anéis, escuros, enferrujados, tortos, amassados, danificados, mas é nossa missão maior é fazer com que se tornem jóias valiosíssimas. Que graça pode ter receber anéis prontos, embalados numa caixa linda de veludo e na medida exata do dedo? Não existe anel mais caro do que aquele que passou pelo calor dos sentimentos, que foi polido com lágrimas, esfregado carinhosamente com o tecido da mansidão e do amor e com a persistência do tempo.
E a maior beleza da vida é isto: chegar aos 93 anos, com todos os dedinhos que cavaram a vida, bem cuidados, limpinhos e ornados com todas as jóias que a vida nos trouxe. Pode ser que nossa memória falhe que esqueçamos os nomes de nossos pais, dos irmãos, se já comemos, de pedacinhos da vida que não tem importância, mas não podemos perder o orgulho e a dignidade dos anéis. E se em alguma fresta da vida, por um pequeno descuido, perdemos um anel, não nos faz bem ficar ali, parar de viver, buscar anzóis para tentarmos resgata-lo, ficarmos de joelhos, enfiarmos o braço na fresta nos arranhando. Se foi é porque não nos pertencia verdadeiramente ou então porque sua missão era mesmo só nos proporcionar o brilho por um curto espaço de tempo. Deixemo-lo lá e sigamos buscando novos anéis, novos adornos, novos enfeites e novos brilhos, porque digno é chegar aos 93 anos com todos os dedos e com todos os anéis, ostentando-os majestosamente.
Parabéns minha querida Tia Wandinha!