Do que não se pode falar, se deve calar
Por modo de iniciativa
de minha irmã Lenora,
a quem a vida já me dava fartura
de motivos para agradecer e admirar,
chegava até mim,
neste domingo que faz véspera
na contagem de um ano mais,
um desses presentes
destinados a fazer o rosto se lavar.
Aparentemente,
dava caso de ser um livro,
mas olhando bem
com recurso de visão que sente
era um monte de gente,
coração batendo para todo lado,
inteirezas de amizade,
ecos de palavras divididas,
colos e abraços de uma história
em começo de se alongar...
Cada um ditava uma receita,
um sabor sabido,
um invento de aroma e cor,
caso de enobrecer ainda mais a vida!
...Algumas partilhadas comigo
em memoráveis experimentos
de presença,
outras para um breve porvir...
Com direito a renascimento de vidas,
letras e imagens imortalizadas
além do forte e doce
cheiro da lembrança.
Vê-se que tentar dizer aqui
esse arrebento de alegria
é pureza de ingenuidade minha,
que amor assim
não cabe em palavra que se diz.
Deixo, então, o precário de uma agradessência
e, cá dentro,
o silêncio do que não pode ser dito.