É INVERNO SIM, MAS NÃO EM MIM!
Logo mais às quinze e seis...
Mais uma vez, vai-se o remanso do outono, deixando atrás de si o prefácio da dança das folhas, a serpentear pelo tempo, sob a brisa fria do amanhã.
O cenário escurece, as flores se encolhem, a névoa cai, passarinhos cochicham o seu canto, como se assustados pelo frio que sempre ameaça nos congelar.
Mas a natureza sempre é beleza... e o sol não desiste nunca!
Recicla a paisagem como recicla os nossos corações.
Sabe que toda vida também segue no remanso, toma fôlego no silêncio, para voltar a se aquecer nas flores e no calor das estações vindouras.
E nós, seres inquietos, também ciclamos ao congelar do tempo.
O clima, até nos parece algoz... mas que jamais o seja dentro de nós!
Também florescemos na aproximação dos corpos, no aperto de mãos, no abraço amigo, no chá em família, no cafezinho da esquina, no chocolate quente que nos sela a noite,junto à lareira que estala.
Jamais nos esfriamos no inverno, naquele que cai apenas lá fora, além de nós, que nos encanta com sua sabedoria que ora cala para repensar o tempo... e refazer a vida...
Como nos alegramos quando de repente vemos um João-de-Barro a espiar pela janela do ninho, e alçar vôo na pintura cinza que sucumbe à sua graça...
Como é gratificante, quando olhamos os campos e, apesar da vegetação rasteira e queimada, observamos uma flor recém chegada, sem medo, sem frio... a enfeitar e sobreviver na adversidade...
Como é relaxante respirar o cheiro que emana dos pinheirais, saborear as sementes lançadas pelas coníferas, e pisotear o farfalhar das folhas queimadas douradamente, uma a uma, como se trabalhadas por um artesão... a nos atapetar os sonhos...
Como é mágico, do alto duma montanha, ou no beiral das marolas da praia, viajar no morno do poente, no descongelar do crepúsculo invernal, que jamais congela seu cromatismo indescritível...
Que paz... ao perceber que congelados flocos de neve se desfazem instantaneamente, ao simples toque do calor das nossas mãos...
Este sim, é o inverno que busco. Um frio que esquenta a escuridão, a me inspirar a poesia.
Portanto, é inverno sim! Que seja bem vindo!
Mas só ali... bem além de mim...