Feliz dia dos pais, meu velho!

Pai, hoje eu consigo entender, perfeitamente, o que você me anunciava quando dizia a frase: “Filho, quando eu morrer, vocês vão sentir muitas saudades de mim e dirão: ah! Se meu pai fosse vivo...” É verdade, meu velho. Sinto mesmo muitas saudades de ti, e o que me dizias, jamais pensei que fosse permanecer tão vivo dentro da alma. Em suas palavras estavam as dores que seus filhos haveriam de guardar dentro da memória, para sacolejar as emoções, todas as vezes em que você fosse lembrado.

Não pudestes ver meus filhos, que te faltaram na alegria dos teus últimos anos de vida. Não puderam conhecer o coração do maior avô do mundo que certamente serias. Hoje, passados tantos anos, ainda sinto muito forte dentro de mim tua ausência e a tristeza de não tê-los apresentado, um a um, diante dos teus olhos. Sei que teu contentamento seria imenso.

Foste arrancado desta vida de forma trágica. Um acidente fatal que não conseguimos tirá-lo da memória. Fui o primeiro dos teus filhos a ver-te morto e sentado ao volante do teu carro. Lembro-me que ainda perguntei a ti se estavas bem e pus a mão em seu ombro esquerdo. Tua cabeça virou para o outro lado e foi quando tive a certeza de que havíamos te perdido. Quanta dor, pai, me desmontou a alma, feriu o coração e me fez retornar para avisar aos outros a tragédia acontecida. Perdi o chão!

Mas o tempo passou e virei uma grande águia e dei voos altos e cacei o sustento para alimentar tua prole que continuou com teus netos, os teus filhos que teci com muito amor. Aqueles que são teus filhos duas vezes como te ouvi dizer tantas outras vezes. Fostes um Pai-Mãe. É triste, sequer lembrar de minha orfandade, quanto mais sabe-la real. Tua amizade deveria ter continuado até que nós dois ficássemos velhos, sentados lado a lado a nos lembrar dos erros do passado e dos acertos de sempre. Mas não deu. Paciência.

Hoje, mais exatamente agora, no instante em que tento construir este texto, sinto tua presença me estimulando a terminá-lo. As lágrimas fluem do coração, porque meus olhos não as pode conter, visto que estão cheios de tuas saudades. Ó pai, eu tento compensar tudo isso olhando para teus netos correndo à minha frente, mas não some de tudo e, constantemente a tua frase me chega viva demais e eu me sinto mais órfão ainda. Ah se pudesse abraçar-te agora e ouvir contigo, bem abraçadinho, aquela música “Meu velho”, na voz de Altemar Dutra, que o senhor assoviava tão lindamente.

Éramos tímidos. O Único beijo que me lembro ter recebido de ti foi em minha Colação de Graus, quando terminei o curso de medicina. Foi na Igreja matriz em Maceió. Tua timidez sempre olhava para a minha e os dois se acovardavam, porque os que se olhavam eram mais machos do que homens.

Entre lágrimas teimosas, e são elas muitas, termino este texto. Não preciso dizer que te amo, porque sabes como ninguém essa verdade. Feliz dia dos pais. Receba meu abraço virtual, já que a dimensão em que estás não me alcança, fisicamente, mas se por acaso puder, que o faça de forma bem apertada, para que eu desfaça essa orfandade mesquinha que me deixou apenas com as lembranças. Hoje seria o tempo de eu te beijar todos os dias e, olhando para tuas pupilas dizer: velho, meu velho, meu maior amigo, eu te amo tanto, que mesmo que chorasse tudo o que pudesse de alegria, ainda não te justificaria, de tudo, o meu pranto.