ARNALDO ANTUNES
Em madrugada de insônia sem nada à fazer,
Arnaldo Antunes,
no episódio “Não é o que não pode ser”...
... eu vejo na TV.
Sem o nexo da lógica ou da razão,
da precisão de algum ou qualquer conceito,
ele – esse cara –
só de me dá a certeza de que a arte não tem razão,
não tem preceito,
só trabalha sem a lógica do preconceito.
Dito e feito.
O que dele vejo só de má emoção (?),
não, só me dá emoção.
Fascinação.
Bem por isso que o ‘não’ é o que não pode ser.
Logicamente.
A certeza de que o certo é o contrário do incerto.
Tão lógico à luz do mundo que poucos enxergam essa nú realidade.
Mas de realidade e o que se diz na essência da pureza de uma infância,
é que o ‘rei está nú’.
Infâmia...
E o nú parece rimar com Antunes...
... tu, nu, nês, antes, um, amantes, costumes...
Sei lá, nada a ver...
E assim são seus poemas sem aparente conexão.
Mas ao fundo,
mensagens de sublime cognição.
Ele... um cara maluco (?)... não, é são (!)
... que vive sua odisseia com os pés no chão,
sem prestar contas à ninguém da sociedade.
E por isso e tal, lhe influencia demais a minha geração,
desde a adolescência-idade.
Poeta de São Paulo. Poeta de Ninguém, poeta do Brasil,
da América e da puta que te pariu.
E graças à Deus a pátria mãe (não a puta) que nos trata com impostos
como filhos-da-puta (dela mesma),
pariu um puta poeta que pauta no texto de infinitas músicas,
pinta em teatro, não poupa palavras,
não pisca dramaturgia, e por aí vai...
Arnaldo Antunes...
Versos sem rima, ilógicos para quem muito pensa.
Palavras desconexas que traduzem o nosso modo de ser.
De Ver a vida, como ninguém.
De pensar no texto da fala e da voz do além.
Sem alucinação. Apenas tezão.
Tezão do gosto, da fruta, do sexo, da comida, bebida,
e das loucas músicas de um titã ,
que parece viver a terapia do alheio divã.
Arnaldo Antunes é o cara...
Ele traduz em letras e palavras a nossa vida agitada,
maluca, densa.
Intensa, imensa,
e não menos tensa.
E isso o faz sem qualquer direcionamento de ofensa...
... à quem quer que seja.
À ele comemoremos um brinde em drink de vinho, cachaça,
bebida fina, ou a simples e sempre fogosa cerveja.
Esse cara é phoda, ao modo sutil.
Ou mesmo foda aos seus poemas e sons.
Ainda que tocado ao velho disco de vinil.
É fera, fino, fudido, feito de ouro, e feio (pra caramba),
fantástico (gente bamba).
Letras amiúde com vários tons.
Repito: cara fantástico.
Mas que em todos os seus tons predomina no seu jeito de ser,
o tom melódico-sarcástico.
Gênio. Diferente. Drogado de sabedoria.
Não consigo explicar o porque da admiração.
Assim sinto eu, assim sente muita gente.
Arnaldo Antunes: à tua arte não sou indiferente.
Reconheço que tu és uma incógnita de beleza artística.
Talvez, Freud explica.
Cantor, compositor, de lindas e loucas palavras,
grande mentor.
Maestro de arte contemporânea,
e de beleza rara.
Arnaldo Antunes... O cara é o cara.