A VOCÊ QUE PARTIU
Temos tendência a julgar e condenar sem tentar entender a dor do outro, o sofrimento do outro, a doença do outro.
Somos fracos e covardes!
Matamos, simplesmente, por que é mais fácil que entender e socorrer.
Eu sei, quem vive do outro lado não consegue raciocinar. A loucura domina e a pessoa age por impulso, pela ação da violência em si, e fica assim provado que a violência gera mais violência!
Há mais de uma década conheci outro jovem que na sua alucinação acometida, pelo uso de drogas, atirou seu filho bebê pela janela, porque o mesmo estava chorando e ele queria o silêncio.
A sua frieza na altura causou comoção nacional.
Diferente do que aconteceu com você, ele foi levado pela polícia, ficou detido, foi julgado e condenado como maluco.
Seguiu anos de tratamentos, hoje vive na sociedade normalmente, é livre, cumpriu sua pena, foi tratado, e se mantêm são, considerado “normal” diante de uma sociedade louca.
Hoje perdi um amigo, quase familiar, eu já imaginava que ele teria um fim trágico, não esperei que fosse tanto.
A loucura se instalou dentro dele!
O problema é que ele agrediu uma criança, e naquele momento ninguém pensou como no caso que eu citei acima, ninguém pensou, que ele assim como aquela criança agredida, também precisava de ajuda!
Julgaram-no, condenaram-no e mataram-no
É difícil lidar com a loucura!
É difícil entender, nem sempre tem cura.
Hoje nesse dia do amigo, você se foi. Hoje enquanto todos comemoravam esse dia, você tinha sido assassinado.
Quando li teu nome no jornal meu coração ficou em pedaços e chorei! Sem ter a certeza que eras tu, naquela notícia tão trágica.
A certeza veio depois numa mensagem ao telefone e veio as lágrimas com mais força também.
Tentei entender mas, não consegui.
Tentei entender a violência a qual você também foi vítima, mas ninguém percebeu isso.
Só viram a criança que você agrediu.
A violência que você cometeu contra aquela criança, contra aquela vizinhança.
E toda essa violência foi por causa da loucura que te dominou.
Tentei encontrar o teu velho sorriso no corpo deformado em lama de sangue.
Tentei encontrar teu velho sorriso do menino “playboy” que conheci.
Tentei encontrar a tua alegria de menino, mas encontrei a dor e a lágrima, e uma noite mal dormida.
E pensei, quantas noites mal dormidas você teve por estes anos afora, desde que a doença se instalou dentro de ti?
Nesse dia do amigo, pensei: quem conseguiu ser teu amigo, quando você ficou louco? Quando você adoeceu?
Que sistema é esse de saúde que uma pessoa que está em perigo e põe em perigo a vida de terceiros, não pode ser internada?
É preciso que um crime aconteça para que se perceba, que você precisava de ajuda?
Quem decide quando alguém deve ser internado?
Não, bobagens, isso não tem importância, você era só mais um louco drogado, na fevela.
Já não precisas de ajuda, não precisas de tratamento!
A morte chegou primeiro e te levou.
A sociedade que agora anda com essa onda de “justiceiros”, que lincham qualquer um, por que lhes dá vontade, já cumpriu seu papel e te matou!
Se julgam deuses, donos da lei.
E não percebem que são assassinos e que assim como, você, também estão doente, mas ninguém vê, só consegue ver, que você morreu porque agrediu um bebê
Sociedade hipócrita, nojenta!
Descanse em paz, rezarei por ti, para que Deus te perdoe e que perdoe também quem te matou.
Lilia Trajano – para você que se foi nesse dia, e pensar que no domingo falei sobre ti ao telefone com minha mãe. 20/072015.