VÓ MARIQUINHA

Em minhas reminiscências de infância e adolescência, estarão sempre presentes a fisionomia, a maneira de se vestir e as atitudes de minha vó Mariquinha. Seu nome era Maria, esta avó pelo lado paterno.

Minhas lembranças são cheias de saudade desta velhinha que raramente vi vestir uma roupa colorida. Parecia estar sempre de luto, com seus vestidos pretos. A única concessão que fazia era, uma vez ou outra, trajar algo com pequenas estampas em preto e branco, que ela chamava de "carijó".

Trazia os cabelos compridos, branquinhos, em uma longa trança, que arrumava na forma de um coque. Às vezes, se permitia usar sobre os cabelos um lenço preto, ou preto e branco.

Mas o que mais me impressionava era sua personalidade marcante, passional até. Amava ou detestava com a mesma intensidade, mas para com os filhos e netos era doce, permissiva. Chegava a ser inconveniente, em sua manifestações de cuidado e preocupação.

Aos netos, permitia tudo em sua casa. A ponto de papai e mamãe
dizerem que ela nos estragava.

Lembro com muita saudade de um fato que jamais sairá de minha memória. Um acontecimento banal, mas cheio de significado para mim. E se repetia cada vez que ela fazia pão.

Em sua modesta casa havia um forno de tijolos de forma arredondada, no quintal. Esse assador a lenha, um tanto primitivo, era muito eficiente. Quase posso sentir o cheiro do pão fresquinho e das rosquinhas de polvilho que dali saíam.

Eu pedia a vovó um pedaço de massa, que ela me dava prontamente, e que eu sovava, dando-lhe a forma de um boneco, no qual ela colocava dois feijões fazendo as vezes de olhos e um grão de milho no lugar da boca.

Depois de crescido na forma, meu boneco ia para o forno diante de minha grande expectativa e ansiedade. E o resultado era uma grata surpresa: aquele boneco crescido, fofo, quentinho, que eu comia, com entusiasmo, ainda antes de esfriar.

Mas eu era criança e trabalhava a massa sem lavar as mãos, depois de muito brincar no quintal, de modo que meu boneco era um tantinho mais escuro que os pães de vovó...

Nunca me fez nenhum mal. Tão alta temperatura, certamente, matava todos os germes.

E eu me sentia tão feliz!

Aloysia
Enviado por Aloysia em 08/05/2015
Reeditado em 08/12/2022
Código do texto: T5235504
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.