Aos meus poetas mortos
( ao 21 de abril, Tiradentes e aos Poetas da Inconfidência)
"Liberdade, ainda que tarde",
é meu sonho maior.
Minha lira, minha voz.
Mas essas vozes que do passado ainda ouço
são os ecos de um calabouço,
que decifro: somos nós.
Por ruelas estreitas, que para a paz foram feitas,
meus poetas trocavam sorrisos, hinos alados,
que o dobre algemado de um dia
por seu silêncio não ecoou,
quando anoiteceu a liberdade
e um mutirão covarde
lacrou os glossários do seu amor.
Minha alma não se apascenta
e intenta abrir no peito um segredo:
- um sim a um novo dia,
à voz dos homens,
ou no coração para sempre o degredo.
Poetas do meu querer mais nobre,
este é apenas um verso pobre
que pede perdão em nome de vossa mágoa.
Mágoa que a face do tempo ainda mostra
um turbilhão de faces expostas
num céu que, um dia, a chorar se viu
parir em turbulência os sonetos da inconsciência
que declamaram em Vinte e Um de Abril.
E hoje, com penas mortas,
o gigante escreve outras letras tortas:
seu poema roto e senil
nas páginas da decadência
um tributo à ausência
da memória que lhe fugiu.
(escrito em 1989, poema premiado e publicado em antologia pela Litteris Editora, RJ e premiado em concurso da Prefeitura Municipal do RJ e Biblioteca Popular do Grajaú (RJ)